Barbosa diz que reeleição prejudica sistema político

De volta a eventos públicos após deixar o Supremo, ex-ministro afirma ser contrário a atual modelo que, para ele, possibilita a troca de favores entre políticos

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Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

Atualizada às 22h12

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São Paulo - O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa criticou ontem o instrumento da reeleição e afirmou que a possibilidade de um mandato seguido no Brasil é “a mãe de todas as corrupções”.

“Nos países em fase de consolidação institucional ou que tenham instituições débeis, a reeleição funciona como o carro-chefe, a mãe de todas as corrupções”, disse o ex-ministro durante palestra no 13.º Congresso Internacional de Shopping Centers e Conferência das Américas, na capital paulista. 

A reeleição, de acordo com Barbosa, faz com que o titular do Poder Executivo - de qualquer esfera - comece o mandato em busca de apoio para a reeleição. “Essas trocas explicam o motivo de um (político) conservador votar ou apoiar favoravelmente projetos de leis capitaneados por pessoas socialistas e vice-versa”, afirmou Barbosa. “Em regra, não há qualquer ilícito nessa conduta, mas o desejo de se perpetuar no poder pode favorecer desvios”, disse. 

Barbosa, de 59 anos, poderia continuar no STF até completar 70 anos, idade em que se aposentaria compulsoriamente Foto: André Dusek/Estadão

Para Barbosa, o ideal seria um mandato de cinco anos com a instalação do voto distrital. “Nós conseguiríamos, pelo menos, eleger um número razoável de pessoas qualificadas.”

Legendas. O ministro aposentado também criticou a quantidade de partidos no Brasil. “É absolutamente irracional um país ter 32 ou 33 partidos.” Barbosa lembrou a decisão de 2006 do Supremo que derrubou a cláusula de barreira, que iria limitar a quantidade de partidos na política - a medida chegou a ser aprovada pelo Congresso antes do veto do STF. 

Barbosa afirmou que o período de campanha poderia ser reduzido pela metade, sem o uso da televisão para baratear os custos de produção. “O que encarece a campanha são os custos de produção desses programas”, disse. “Já presenciei eleições em diversos países e elas são muito enxutas. Nem se percebe que o país está em processo eleitoral”, afirmou ele, que também não acredita que as campanhas políticas atuais levem informação para o eleitor. 

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Campanha. O ex-presidente do STF evitou comentar os rumos da atual campanha presidencial. Ele afirmou que passou 40 dias fora do País desde que deixou a presidência do Supremo, em julho deste ano. 

“Eu não tenho visto (a campanha). Estava fora do País. Não tenho visto nada”, afirmou o ex-ministro do STF. “Não tenho pretensões de influenciar (o debate eleitoral).”

Em relação ao próximo ano, no entanto, afirmou que será de ajustes, sobretudo na área econômica. “(O ano de) 2015 marcará o início de nova jornada, novos governantes, e reformas certamente deverão ser feitas, especialmente no campo econômico”, disse.

Com relação ao futuro na política, Barbosa afirmou que “está tão bom aqui fora”. “Estou começando a gostar”, disse ele, embora tenha sido aplaudido de pé pela plateia que acompanhou a sua palestra e paparicado com inúmeros pedidos de fotos enquanto deixava o local.

No caso de um candidatura futura, apesar da quantidade de partidos existentes, Barbosa disse que não se filiaria a nenhum. “Quanto aos partidos, eu não escolheria nenhum.”

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