Apoio de Marina pesa pouco, diz Professor

Para Fonseca, professor de Ciência Política da FGV, história mostra que não há transferência de votos,mas militância pode ser decisiva para Dilma

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Por Gabriel Manzano
Atualização:

Enquanto PT e PSDB saem a campo pelo apoio de Marina Silva e do PSB, o professor de ensina ciência política na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo Francisco Fonseca faz duas constatações. Primeira, que a transferência de votos de um líder ou partido para outro é quase irrelevante - a experiência anterior mostra isso. Segundo, que a presidente Dilma Rousseff teve 41,5% dos votos e Marina, 21,3%. Ou seja, Dilma precisa de um terço, pouco mais, dos votos dados à rival, para superar os 50% - dado, é claro, que não perca os que recebeu no domingo. “E não há como negar que as raízes do PSB e de grande parte de sua militância pertencem ao campo da esquerda”, acrescenta Fonseca. Ou seja, a presidente começa a caminhada de três semanas numa situação mais confortável que a do tucano Aécio Neves. Ele não imagina, no entanto, que um novo governo - seja de quem for - altere significativamente o quadro visto até aqui - de muitos partidos, negociações por apoio, concessões na forma de cargos e vantagens.

Marina deve apoiar Aécio Neves no 2° turno Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

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Os dois vencedores do domingo vão brigar pelo apoio de Marina Silva e do PSB. Qual a real importância desse apoio?A posição de líderes partidários, nessas situações, tem-se mostrado irrelevante, ou quase isso. Não vejo por que a de Marina seria diferente. Mas há especificidades no caso. Marina não é do PSB, que é um partido mais à esquerda. Boa parte dos militantes da sua Rede Sustentabilidade também são mais próximos da esquerda do que de outros grupos. A proximidade do PSB com o PT é um fato histórico. Não vou dizer que esses votarão majoritariamente em Dilma. Imagino mais uma dispersão do tipo 60% para um, 40% para outro. Se Dilma obteve 41,5% e Marina 21,3% no 1. º turno, basta um terço, pouca coisa mais, de adesão dos marinistas para Dilma chegar à maioria absoluta. Há uma quantidade de eleitores do PT decepcionados com o partido, que podem não agir dessa forma.Sim, e é por isso que disse não acreditar em transferência majoritária de votos. Minha conta é de uma parcela menor, mas suficiente.É a sexta vez que o País vive essa polarização PT-PSDB. Como vê esse fenômeno?Há um paradoxo na política brasileira. Temos um multipartidarismo forte na política estadual e na municipal convivendo com esse bipartidarismo na disputa presidencial. Por um lado, 32 partidos atuando, 28 agora representados no Congresso. Por outro, os mesmos 2, há 20 anos, disputando o Planalto. Como arrumar isso?Fernando Henrique Cardoso tinha 15 partidos em sua coalizão, Dilma tem hoje os mesmos 15. O problema não é a quantidade, é a lei, que determina que os partidos sejam nacionais, assim que criados. 

Em outros países é diferente?Na Espanha há 4.000 partidos, Nos Estados Unidos, uns 400. Mas são grupos locais, regionais. Para terem atuação mais ampla, precisam antes conquistar cargos nas urnas. Aqui temos siglas que nascem e já recebem espaço na TV, dinheiro do Fundo Partidário, direito a lançar candidato a presidente. Claro que a democracia deve estar aberta à formação de partidos - mas é preciso uma regulamentação séria disso. Como está, os governos precisam dessas legendas para governar, e não é fácil mudar a regra contra eles.Os números do domingo apontam um fortalecimento do sentimento antipetista em muitos lugares. Por que isso ocorreu?Acho que o Brasil vem passando por transformações em suas placas tectônicas, na mobilidade social. O governo Lula tirou uma grande quantidade de gente da miséria, criou-se um mercado de consumo novo, formado por esses grupos em ascensão, o crédito ficou fácil. Isso gera uma estranheza entre os grupos de maior renda, que sentem seus espaços invadidos e reagem com esse voto contra o PT.

Contando-se os votos de José Serra, de Aécio Neves, de Beto Richa, no País, há no País tantos ricos assim atingidos?Aí entra outro fator: essas novas classes médias são conservadoras. Grande parte delas entende que subiu por méritos próprios, não por políticas macroeconômicas, pelo crédito fácil, etc. É gente que diz “eu não sou pobre”. E um terceiro fator do antipetismo, me parece, é o predomínio de uma mídia que tem lado nessa disputa - e que atua contra o PT.

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