PUBLICIDADE

Análise: Morte elimina líder promissor, mas não o tino político da família

No futuro, quem se informar a respeito da eleição de 2014 saberá que foi um processo marcado pelo acidente que levou Eduardo Campos. O nome do ex-governador não poderá ser desassociado da história destes dias. O pesquisador aprenderá que Eduardo era um líder muito promissor e, ainda que não fosse favorito para este pleito, se preparava para assumir um lugar de proa na cena política nacional. 

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Intrigados com a tragédia e seu efeito eleitoral, jornalistas do amanhã traçarão o perfil do “neto de Arraes”. Compreenderão que, mais que isso, Pernambuco - como o Rio Grande do Sul - é um Estado de tradição política, acostumado a oferecer personagens - e oligarquias - mais bem preparados que a média nacional, capazes de influenciar os destinos do País. Basta vasculhar a história: Caneca, Nabuco, Arraes, Fernando Lira, Marco Maciel, Lula - ainda que saído menino de Garanhuns.

PUBLICIDADE

Por tudo isso, é possível afirmar que a linhagem política do Estado, em geral, e a de Campos, em particular, não desaparecerão com a queda do avião. Em Pernambuco, a política pulsa, pulsou e pulsará. As cenas de dor e altivez da família Campos foram tão marcantes quanto carregadas de gestos políticos: a mãe, Ana, a viúva, Renata, os filhos reunidos pela perda e pela política. Improvável a linhagem iniciada por Arraes ter fim tão cedo. 

Lentamente, os Campos se deslocam do centro do desastre para o meio do palco político. Renata é opinião relevante nos destinos do PSB e do Estado; João, o primogênito, já debruçado nos palanques, arrisca os passos de uma liderança tão precoce quanto tomada pelo destino, pelo drama e pelo apelo do futuro. Sente-se que o clã respira política.

Igual processo ocorre com figuras próximas a Eduardo: o atual prefeito de Recife, Geraldo Júlio, o candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, e o ex-deputado Maurício Rands tendem a assumir espaços rápidos e crescentes. Expressam a lembrança de Eduardo, mas também uma nova geração de políticos de um importante - e não raro central - Estado da federação. Igualmente, o gaúcho Beto Albuquerque, de outras paragens e vice de Marina Silva, é figura de destaque que, ao mesmo tempo em que faz recordar o líder que morreu, transmite a personalidade de uma liderança que se fixa.

Depois do que passou, algo aflorará - sem afobação, já que nada é pra já. Na esteira de Eduardo, nova geração vai desabrochar: Renata, João, Geraldo, Maurício, Beto e outros ocuparão seus lugares. O tempo dirá. A inevitável atração que a política exerce sobre Estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul se encarregará disso, assim como o perfil que já se delineia em personalidades aparentemente aptas para a política, desde sempre capturadas por seu fascínio. A renovação é a lei. Ainda que tarde, ela virá.

Carlos Melo - Cientista político e professor do Insper

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.