Intrigados com a tragédia e seu efeito eleitoral, jornalistas do amanhã traçarão o perfil do “neto de Arraes”. Compreenderão que, mais que isso, Pernambuco - como o Rio Grande do Sul - é um Estado de tradição política, acostumado a oferecer personagens - e oligarquias - mais bem preparados que a média nacional, capazes de influenciar os destinos do País. Basta vasculhar a história: Caneca, Nabuco, Arraes, Fernando Lira, Marco Maciel, Lula - ainda que saído menino de Garanhuns.
Por tudo isso, é possível afirmar que a linhagem política do Estado, em geral, e a de Campos, em particular, não desaparecerão com a queda do avião. Em Pernambuco, a política pulsa, pulsou e pulsará. As cenas de dor e altivez da família Campos foram tão marcantes quanto carregadas de gestos políticos: a mãe, Ana, a viúva, Renata, os filhos reunidos pela perda e pela política. Improvável a linhagem iniciada por Arraes ter fim tão cedo.
Lentamente, os Campos se deslocam do centro do desastre para o meio do palco político. Renata é opinião relevante nos destinos do PSB e do Estado; João, o primogênito, já debruçado nos palanques, arrisca os passos de uma liderança tão precoce quanto tomada pelo destino, pelo drama e pelo apelo do futuro. Sente-se que o clã respira política.
Igual processo ocorre com figuras próximas a Eduardo: o atual prefeito de Recife, Geraldo Júlio, o candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, e o ex-deputado Maurício Rands tendem a assumir espaços rápidos e crescentes. Expressam a lembrança de Eduardo, mas também uma nova geração de políticos de um importante - e não raro central - Estado da federação. Igualmente, o gaúcho Beto Albuquerque, de outras paragens e vice de Marina Silva, é figura de destaque que, ao mesmo tempo em que faz recordar o líder que morreu, transmite a personalidade de uma liderança que se fixa.
Depois do que passou, algo aflorará - sem afobação, já que nada é pra já. Na esteira de Eduardo, nova geração vai desabrochar: Renata, João, Geraldo, Maurício, Beto e outros ocuparão seus lugares. O tempo dirá. A inevitável atração que a política exerce sobre Estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul se encarregará disso, assim como o perfil que já se delineia em personalidades aparentemente aptas para a política, desde sempre capturadas por seu fascínio. A renovação é a lei. Ainda que tarde, ela virá.
Carlos Melo - Cientista político e professor do Insper