Análise: Abrir o jogo é pecado grave na era dos consultores

A campanha presidencial deste ano vem sendo desenvolvida de acordo com as regras do marketing político. É uma situação incontornável pelo ambiente midiático, caracterizado pela centralidade da televisão e pela personalização da política, que configura as modernas democracias de público. Vivemos a era dos consultores e das campanhas profissionais. A missão de uma campanha não é mais convencer pela troca de argumentos, mas pela persuasão publicitária.

PUBLICIDADE

Por Fernando Antônio Azevedo
Atualização:

O resultado disso é que, dos três principais competidores, apenas Marina Silva apresentou ao eleitor um programa de governo sistematizado - e, mesmo assim, logo teve que corrigir pontos polêmicos, o que foi visto pelos concorrentes como recuo político. Aécio Neves e Dilma Rousseff não apresentaram formalmente seus programas; o primeiro o promete “para breve” e a segunda já avisou que só divulgará diretrizes gerais.

PUBLICIDADE

O predomínio dessa lógica do marketing político tem privado o eleitor de um debate real sobre o estado da nação e as possíveis vias políticas e econômicas para os próximos quatro anos. O marketing encobre esse debate necessário e o substitui por peças publicitárias e pela artilharia da campanha negativa. Pouco sobra de debate programático, e quando ele ocorre é de forma tópica e sem muita clareza em ambientes fechados (associações de classe, segmentos empresariais). Os candidatos preferem não detalhar os planos, até para não abrir o jogo para seus adversários. Marina abriu e deixou um flanco aberto às críticas dos rivais. 

Contudo, as campanhas continuam a ser um momento único em que o cidadão pode escolher não só seus dirigentes como as políticas para o País. É por isso que os programas importam, e fazem falta na atual competição eleitoral. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.