Aécio fará reforma para baixar juros bancários, diz economista

Integrante da equipe econômica da campanha presidencial do tucano, afirma que candidato tem 'estratégia agressiva' para reforma tributária

Por Debora Bergamasco
Atualização:

Brasília - Integrante do grupo de economistas da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB),Mansueto Almeida afirmou em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado que, se for eleito, o candidato pretende apresentar já nos primeiros dias de governo mecanismos para baixar as taxas de juros bancários. Disse ainda que o atual governo "abusa do BNDES" e que na gestão tucana o banco participará do desenvolvimento dos projetos de infraestrutura do País. A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Se o PSDB vencer a eleição presidencial, quais as medidas imediatas previstas para resgatar a economia?Já nos primeiros dias de governo a ideia é partir para uma estratégia agressiva de reforma tributária e de outras reformas que a economia brasileira precisa. Por exemplo, o spread bancário no Brasil é alto, mas ninguém reduz spread no grito. A gente reduz com medidas consistentes que ataquem esse problema. A alta do spread bancário tem a ver com a alta proporção do crédito direcionado, o que obriga o banco a direcionar parte da carteira a determinado tipo de empréstimo. Se controla os juros "na porta". Então, há distorções no mercado de crédito que precisam melhorar.

Um eventual governo do PSDB reduzirá a concessão de crédito subsidiado?O governo tem de avaliar se houve conversão desse crédito em investimentos. Saber se poderia ter transformado esse subsídio em outro tipo de política que beneficiaria um número maior de pessoas. Os programas continuam enquanto a gente não resolver os problemas do Brasil. A saída do governo não vai ser dar mais, mais e mais subsídios, porque isso não vai resolver. Quando tivermos um País com reforma tributária implementada, custo Brasil baixo, essa política de subsídios deixa de ser necessária. Mas isso é para o futuro.

Qual será o papel do BNDES?O governo hoje abusa do BNDES porque faz uma série de programas. Alguns funcionam e outros não. Quais dão certo? Ninguém sabe. O BNDES, no governo Aécio Neves, vai ter um papel muito mais ativo na parte de planejamento, nos projetos de infraestrutura. Hoje, o BNDES é chamado pelo governo só para pagar a conta. O BNDES vai ser o grande órgão junto com o Ministério de Infraestrutura para desenvolver o planejamento e a engenharia financeira e elaboração de projetos na área de infraestrutura.

Quais são as perspectivas para 2015?O próximo presidente já vai assumir de mãos atadas, porque vai herdar todos os erros feitos em anos anteriores. Tem uma parte de 2015 que não depende do presidente, que seria uma "herança maldita" específica. O próximo governo terá que lidar com o reajuste de tarifas, recuperar o superávit primário do setor público e sinalizar para o mercado que vamos continuar com a trajetória cadente da dívida pública bruta e líquida. Não vamos ser ingênuos: o Brasil vai ter superávit primário de 2,5% ou 3% do PIB ano que vem? Claro que não. Quem falar que vai conseguir uma economia tão grande, como o ministro da Fazenda (Guido Mantega) prometeu, eu acho muito difícil, não acredito.

A candidata Marina Silva está prometendo diminuir a meta de inflação para 3% em 2019. Isso é possível?Possível é, agora eu não sei qual é o plano da candidata Marina. Mas, no nosso caso, Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e coordenador do programa econômico de Aécio) tem dito de forma muito clara que é possível se ter redução da inflação para o centro da meta. E, à medida em que a gente tenha sucesso nisso, vamos reduzir a banda do regime. Armínio foi, por sinal, a pessoa que implementou o sistema de regime de metas da inflação.

Marina também defende o tripé econômico...O que todos os candidatos estão tentando mostrar é que vão fazer o que Armínio Fraga, em um governo do PSDB, fez. O próprio Armínio, que está com a gente, vai fazer tudo isso. Muito mais e melhor.

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Aécio vem defendendo corte de gastos para o próximo ano. Como será isso na prática?Se a gente olhar o último dado do ano fechado, que é 2013, e comparar com 2010, o custeio, sem programas de transferência de renda, cresceu R$ 70 bilhões. São quase 60% em três anos. O grande desafio não é cortar gastos como se faz nas empresas privadas. No setor público, economizar significa ter um regime em que o gasto público cresça menos do que o crescimento do PIB. Essa é uma agenda de médio e longo prazo. A outra parte dessa agenda é tapar os buracos, resolver os gastos de custeio que não dão retorno para a população. A melhor forma é ter um sistema meritocrático, com avaliação de todos os programas públicos e dar prêmios para funcionários e agências públicas que consigam transformar esse desperdício em benefício para a população.

O candidato fala em aumentar crescimento e dá como receita corte de gastos. O que mais está previsto para fazer o País crescer mais?O Brasil pode perfeitamente crescer 4,5% ao ano a partir dos dois últimos anos de governo Aécio. Primeiro, precisa aumentar a produtividade e, para isso, precisa importar tecnologia, além de desenvolver inovação aqui. Dois: aumentando a taxa de investimentos. Hoje, é 18% do PIB. A meta de Aécio é de investir pelo menos 24% do PIB em 2019. Além disso, vamos adotar uma série de reformas que melhore a eficiência da economia, vamos produzir mais, adotar um marco regulatório claro, recuperar o poder das agências reguladoras, que vai dar um horizonte de planejamento e segurança para os investidores na área de infraestrutura e, assim, conseguir reduzir juros.

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