Aécio defende obra, mas não diz se usou aeroporto

Candidato do PSDB à Presidência faz um rápido pronunciamento, acusa PT de estar por trás de divulgação do caso e ignora perguntas

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Por Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes
Atualização:

Atualizado às 23h19 - São Paulo - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, voltou a defender nesta terça-feira, 22, a construção, pelo governo de Minas, de um aeroporto em terreno desapropriado de um parente seu no município de Cláudio, no interior do Estado, quando chefiava o Executivo estadual.

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]A campanha tucana convocou a imprensa, mas Aécio se recusou a responder a perguntas feitas pelos jornalistas que estavam no comitê central, em São Paulo. O candidato fez apenas uma declaração sobre a legalidade da obra, sem dizer se fez ou não uso do aeroporto, que fica a 6 quilômetros da fazenda de sua família.

Reportagem publicada no domingo pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que o governo mineiro gastou quase R$ 14 milhões na construção do aeroporto de pequeno porte na área que pertenceu ao tio-avô de Aécio, Múcio Guimarães Tolentino, ex-prefeito de Cláudio. Conforme a reportagem, um dos filhos de Múcio, Fernando Tolentino, disse que o próprio Aécio, seu primo, usa a pista sempre que visita a cidade.

No rápido pronunciamento, Aécio acusou o PT de estar por trás da divulgação do caso. “A campanha começou como nossos adversários gostam: com mentiras e ataques à honra. Essa é uma praxe dos nossos adversários do PT”, afirmou.

O tucano apresentou dois pareceres assinados pelos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto e Carlos Velloso para defender que não houve ilegalidade na obra.

O parecer de Carlos Velloso foi enviado de Portugal e é datado de 22 de junho de 2014. A avaliação de Velloso, que ele classifica de “breve opinião legal”, é constituída por apenas quatro parágrafos. No parecer, ele afirma que o procedimento para a construção do aeroporto na cidade de Cláudio foi “correto”.

Já a opinião legal de Ayres Britto é formada por apenas três parágrafos. O texto não tem data. “Não há nada de juridicamente inválido nesse proceder administrativo do Estado”, afirma o ex-ministro do Supremo.

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Aécio alegou que o terreno foi desapropriado pelo Estado por um valor bem abaixo do mercado: R$ 1 milhão. “Se houve algum favorecido nisso foi o Estado, e não esse meu parente”, afirmou o candidato do PSDB.

Abalo.O caso do aeroporto abalou a campanha tucana. Aécio cancelou sua agenda nesta terça e passou o dia em Belo Horizonte articulando sua defesa. Ele desembarcou em São Paulo no começo da noite e participou de um encontro com a deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) no comitê central de sua campanha. Embora digam oficialmente que não há crise na campanha, aliados do senador admitem reservadamente que o sinal amarelo foi aceso depois que o caso foi repercutido pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.

A estratégia para sair da defensiva já foi traçada: culpar a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pelo vazamento e o PT pela propagação da história e por tentar politizar a denúncia. “Esse assunto ocorreu em 2010. A denúncia foi feita, claro, por vazamento de algum órgão de governo que tenha a informação e controla o funcionamento do aeroporto”, disse o senador José Agripino (DEM-RN), coordenador da campanha de Aécio, sem citar nominalmente a agência.

A Anac anunciou que vai apurar se aviões pousaram ou decolaram da pista em Cláudio, pois o aeroporto não tem autorização do órgão para operar.

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O PT entrou nesta terça com um pedido para que a Procuradoria-Geral da República abra inquéritos civil e criminal para investigar se houve irregularidades cometidas pelo candidato do PSDB. A sigla solicita que sejam apurados práticas de improbidade administrativa, crimes de peculato, prevaricação e outros.

A assessoria de Aécio divulgou cópias do que informou ser um inquérito civil do Ministério Público de Minas que investigou a obra em 2009 e concluiu que não havia irregularidades.

Na capital mineira, o promotor Júlio César Luciano, do Ministério Público estadual, disse que instaurou um procedimento prévio de investigação para apurar o caso. / COLABORARAM MARCELO PORTELA e RICARDO BRITO

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