A política econômica no centro do debate

Mesmo o País estando à beira de uma recessão, inflação no limite aceitável e baixo nível de desemprego dificultam discurso da oposição

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Por Lu Aiko Otta
Atualização:

Texto atualizado às 22h

BRASÍLIA - A oposição começou esta campanha eleitoral com farta munição para atacar a candidata da situação, a presidente Dilma Rousseff. Economista, ela recebeu um País crescendo 7,5% e vai entregá-lo à beira da recessão, apesar de haver empenhado todo seu capital político nesse campo.

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Assim, temas como tripé macroeconômico, autonomia do Banco Central e ajuste fiscal viraram pano de fundo para embates violentos. Como isso vai se refletir nas urnas, porém, é outra história. As pesquisas de intenção de voto mostram que a disputa não está fácil para a oposição. Isso porque, apesar de a economia estar mal, o quadro ainda é razoável para dois indicadores de bem-estar. A inflação cresce perto de 6,5% ao ano. É o limite do aceitável. E o desemprego está num nível baixo, 5%.

O sociólogo Antonio Lavareda, ligado à oposição, acredita que o voto é decidido com base na emoção, com o centro emocional do ser humano no bolso. E aí os sentimentos são divididos. O baixo crescimento, diz ele, tirou da tão celebrada nova classe média o horizonte de seguir melhorando. Por outro lado, 70% das pessoas dizem não temer o desemprego. “A economia é, ao mesmo tempo, a causa das mazelas e a salvação de Dilma.”

Guido Mantega sairá mesmo se a presidente Dilma for reeleita. Armínio Fraga vai para a Fazenda se Aécio vencer a eleição Foto: Sérgio Castro e Andre Dusek/Estadão

Para o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, o desempenho econômico fraco tornou a eleição mais disputada do que o PT esperava. Mas, para o descontentamento se refletir nas urnas, ainda falta Marina ou Aécio serem identificados como os mais capazes de concretizar o desejo de mudança que cresce na população. “Aí, a tarefa é política.” E esse embate girou em torno de temas econômicos.

Marcas. Assim como Fernando Henrique foi o presidente da estabilização e Lula, o do avanço social, Dilma quis marcar sua gestão pelos juros baixos e alto crescimento. E falhou, como mostram os números. Foi aí que a oposição tentou se firmar.

Mas, quando o jogo é político, a consistência das propostas tem peso relativo. Vale mais o recado que chega à população. Cortez avalia que Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) tiveram problemas nesse campo.

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Parte da desconstrução de Marina, acredita ele, veio de um tema árido: a independência do BC, promessa reafirmada por uma das mais próximas conselheiras da pessebista, a educadora Neca Setubal.

Outro ponto bem usado por Dilma foi o ajuste fiscal. “O PT sempre usou esse tema para estabelecer a polarização”, constata Cortez. E Dilma conseguiu colar em Aécio a pecha de defender um “arrocho”.

Tanto o candidato como seu já nomeado ministro da Fazenda, Armínio Fraga, defendem um ajuste nas contas públicas a partir do ano que vem. A mesma linha é adotada pelo principal conselheiro econômico de Marina, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca.

Ao mesmo tempo que se coloca contra o “arrocho”, Dilma passou um recado para os que se ressentem dos desequilíbrios gerados pela má situação das contas públicas, parcialmente disfarçada pelas manobras contábeis feitas pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. Ela afirmou que trocará a equipe num eventual segundo governo. E incluiu na conta o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

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