A classe C

Milhões que subiram na vida desafiam o poder com seus novos sonhos

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Por Pablo Pereira
Atualização:

Que melhorou a vida da classe C, aquele cidadão com rendamensal entre R$ 320 e R$ 1.120, quase ninguém mais duvida. De pesquisadores a candidatos à Presidência da República, o diagnóstico se consolida como uma verdade dos últimos 20anos. A dúvida dos entendidos agora está em saber como e quem no País vai cuidar da avalanche de expectativas que apareceu depois que 40 milhões de pessoas sentiram o gostinho de novidades.

Calculada hoje, em torno de 113 milhões, ou 56% dos 202 milhões de habitantes, a classe C brasileira, se fosse um país, seria o 18.º no mundo, afirma Renato Meirelles, diretor do Datapopular, instituto especializado em medir o humor desta faixa da população. Em 2013, esse grupo de renda tinha um poder de compra calculado em R$ 1,17 trilhão. E a estimativa para este ano é de que bata em R$ 1,24 trilhão.

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O Datapopular comparou a evolução das classes no período das últimas quatro eleições. Em 2002, ano da primeira eleição de Lula, a classe C era 39% da população. Pulou para 46% em 2006 e chegou a 52% em 2010, quando Dilma foi eleita. Hoje esse contingente alcança 56% e deverá atingir os 58% da base em 10 anos.

Dividido. A pesquisa aponta um brasileiro dividido: otimista em relação a si mesmo e seus esforços, mas pessimista em relação à vida pública. Ao perguntar sobre como vai a vida, 63% dizem que ela melhorou no último ano. Quando a pergunta é sobre o País, somente 41% pensam assim. 

De acordo com o estudo, 75% consideram a política assuntoimportante; 79% garantem entender seus direitos como cidadãos; e 37% acreditam que entendem de política. Quando a questão é “o meu voto pode mudar o Brasil”, 7 em cada 10 respondem “sim”. Porém, metade deles está de mal com os partidos políticos: um vasto universo de 51% da classe C acredita que “o Brasil seria melhor se não tivesse nenhum partido político”. Para sustentar as expectativas de melhora de vida desse pessoal, o Brasil terá de se mover na direção de uma economia de serviços, com aposta no empreendedorismo, na redução da burocracia para os pequenos negócios e muito incentivo à educação. 

Essa é a receita do professor de economia Joaquim Guilhoto, vice-diretor da Faculdade de Economia da USP. Para ele, o caminho passa também pela criação de novos polos regionais de serviços e tecnologia. “Os programas sociais ajudaram, mas agora é preciso encontrar uma forma de ligar os beneficiados pelo Bolsa Família com a produção da economia”, adverte. Para Carlos Antônio Costa Ribeiro, que pesquisamobilidade social no IESP/UERJ, é preciso atender à maior exigência por qualidade nos serviços. Mas ele entende que “éum exagero” chamar essa massa de classe média. Os brasileiros dessa faixa de renda, diz ele, são pobres quemelhoraram de vida, mas ainda são pobres. “Eles estão fora da faixa que paga imposto de renda, por exemplo”, argumenta. “Que a vida melhorou, não há dúvida. Mas a desigualdade no Brasil permanece muito grande. Apostar em qualificação, em educação, deveria ser prioridade”.

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