Mais tucanos dizem o contrário: 23% a 28% desse eleitorado potencial dos caciques não votaria em Doria de jeito nenhum. Mesmo assim, o resultado é bom para o prefeito. Apesar de sua exposição como apresentador do Aprendiz e nas mídias tradicional e social desde que venceu em São Paulo, a versão tucana de Donald Trump ainda terá que se expor muito para seu eleitorado ser nacional. Em tempos de antipolítica, é uma oportunidade.
O eleitor potencial de Doria é muito concentrado no Sudeste (25% de potencial nessa região, contra apenas 9% no Nordeste e 10% no Sul), nas grandes cidades (20% a 14% em comparação às pequenas), entre os com mais tempo de escola (30% entre quem fez faculdade, contra 12% entre quem só fez o Fundamental) e entre os mais ricos (33% de potencial, contra 12% entre os mais pobres).
Em compensação, a rejeição ao neotucano não é especialmente alta em nenhum segmento do eleitorado. No máximo, chega a 40% entre os homens e a 39% no Nordeste. Seu padrinho político, Alckmin tem 60% de rejeição entre os nordestinos, por exemplo. Na média nacional, Doria é rejeitado por 36% e desconhecido por 48%.
A baixa rejeição e o desconhecimento alto entre quem prefere o PSDB significa que, se tiver o apoio de Serra, Aécio e Alckmin para ser o candidato do partido, Doria pode converter 3 em cada 4 eleitores potenciais tucanos que não o conhecem hoje. Tem chance de, em pouco tempo, dobrar seus 16% de eleitorado potencial no Ibope - desde que, é claro, a máquina política, financeira e de propaganda do PSDB passe a trabalhar para ele.
E por que Serra, Aécio e Alckmin fariam isso? Por que abririam mão de serem candidatos a presidente em favor de um neófito sem tradição no partido? Porque o prefeito de São Paulo alcança um eleitorado que eles não podem mais alcançar: 62% do eleitorado potencial de Doria não votaria em Aécio de jeito nenhum, 63% rejeitam Serra e 55% não querem saber de Alckmin. São 8% a 10% do eleitorado nacional que não votariam no PSDB em uma eleição presidencial se o candidato do partido fosse um dos três.
Não parece muito, mas pode ser a diferença entre ir ou não para o segundo turno em uma eleição dispersa como 2018 deve ser. O cenário lembra muito mais a disputa de 1989 do que todas as outras em que um tucano ficou em primeiro ou segundo lugar. Como o Ibope confirma, a polarização PT x PSDB não é mais automática. Se Lula da Silva for candidato, o cenário mais provável será ele (que tem 47% de potencial de voto) contra um antipolítico.
Marina Silva (Rede) fez esse papel duas vezes. Será difícil ela representá-lo em 2018: 50% não votariam nela de jeito nenhum, a mesma rejeição de Lula (51%). O eleitor quer caras novas.
Entre os nove nomes testados pelo Ibope, Doria tem o eleitorado potencial que mais rejeita Lula: 69% dos que dizem que votariam nele não votariam no petista de jeito nenhum. Essa taxa é de 63% entre eleitores de Jair Bolsonaro (PSC). Seduzir o eleitorado contrário a Lula é essencial para Doria aumentar seu potencial. Hoje, só 23% dos que rejeitam o ex-presidente votariam no prefeito paulistano; outros 41% não conhecem Doria; e 37% desconhecem Bolsonaro. A corrida para ser o anti-Lula começou.