Quando o Brasil deixou Fidel perplexo

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Por Jose Roberto de Toledo
Atualização:

A posse de Fernando Collor, em março de 1990, trouxe Fidel Castro de volta ao Brasil após quase 30 anos. O líder cubano ficou uma temporada passeando pelo País. Foi tratado como estrela pelo então governador paulista, Orestes Quércia, que o levou para o primeiro aniversário do Memorial da América Latina. Fidel só não roubou a cena porque os brasileiros, naqueles dias, queriam apenas entender o choque provocado pelo Plano Collor.

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Recém-empossado, com apoio de 71% da população, o novo presidente brasileiro estava no auge de sua popularidade. Com o congelamento de preços, mudança de moeda e, principalmente, o confisco do dinheiro que a população tinha no banco, Collor prometia deixar a esquerda perplexa, e a direita, indignada. No meio desse turbilhão, Fidel perambulava pelo Brasil.

Ainda em São Paulo, o líder cubano gravou um Roda Viva da TV Cultura. Desde aquele tempo, se o entrevistado fosse importante o suficiente, não ia até o programa, o programa ia ao entrevistado. Roberto Muylaert, então presidente da Fundação Padre Anchieta, acompanhou o apresentador - o saudoso Jorge Escosteguy - e os entrevistadores ao local da gravação. Antes de a entrevista começar, Fidel desatou a fazer perguntas sobre o Plano Collor. Queria saber todos os detalhes.

Muylaert contou que o governo confiscara os depósitos do "overnight", uma aplicação financeira muito comum naqueles tempos em que os preços dobravam do dia para a noite.

- Fizemos o mesmo na revolução, pontuou Fidel.

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Muylaert prosseguiu contando que Collor confiscara a poupança.

- Fizemos o mesmo na revolução, repetiu Fidel.

Muylaert começou a dizer que o governo também havia congelado as contas correntes, quando foi interrompido por Fidel:

- Contas correntes? Contas Correntes! Nem quando fizemos a revolução em Cuba mexemos nas contas correntes!

Collor cumprira metade de sua promessa.

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PS: versão anterior deste texto informava incorretamente que a entrevista havia sido gravada no estúdio do Roda Viva.

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