O voto improvisado

Quanto mais distante o eleitor está dos candidatos a prefeito, mais volátil é a eleição. Quanto mais dependente da televisão é a campanha, maior a chance de haver mudanças repentinas e decisivas na reta final da corrida eleitoral. Pesquisa inédita do Ibope, publicada aqui com exclusividade, revela quando, onde e como o eleitorado brasileiro decide seu voto a prefeito.

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Por Jose Roberto de Toledo
Atualização:

De tão repetida, sua curva de intenção de voto está se tornando um clássico: o líder nas pesquisas começa a cair e, nos últimos dias - às vezes na véspera da votação -, desaba. De quem pintava como grande favorito no primeiro turno, vira um terceiro colocado - tudo em questão de horas. Foi assim com Celso Russomanno em 2012 e 2016, e com Marina Silva em 2014. Por que?

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Um em cada cinco eleitores brasileiros admitiu ao Ibope que escolheu seu candidato no próprio dia 2 de outubro, ou seja, no dia da eleição. A esses 19% do eleitorado somam-se outros 15% que disseram ter feito a escolha não muito antes, nos últimos dias antes de irem à urna. Ou seja, pelo menos 1 em cada 3 votos dados no primeiro turno da eleição municipal foi decidido em cima da hora. É esse terço que derruba líderes e elege azarões.

Especialmente nas metrópoles. Os eleitores que improvisam o voto são bem mais do que um terço nas cidades acima de 500 mil habitantes. Lá, somam 45% - a mesma taxa da média das capitais. É quase metade do eleitorado das principais cidades do País deixando para decidir em cima da hora em quem vai votar.

Mas nem todos esses eleitores admitem isso antes de votarem. A taxa de indecisos nas pesquisas de véspera é muito menor do que esses 45%. O eleitor prefere citar o nome de um candidato - mesmo que não tenha certeza de que vai votar nele - do que dizer que está indeciso. É fácil entender sua volubilidade.

No mundo superconectado, há mais informação do que o cérebro é capaz de processar. O ruído supera o sinal (apud Nate Silver), e a tentação à dispersão é forte demais para resistir. As redes sociais digitais demandam que todos tenham opinião sobre tudo, que tomem partido mesmo sobre temas para os quais dedicaram pouca ou nenhuma atenção. O processo eleitoral não é exceção.

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A uma semana do segundo turno, 24% dos eleitores de Manaus dizem que ainda podem mudar seu voto. Em Belo Horizonte, 20%. Já tinha sido assim no primeiro turno. Mais da metade dos eleitores das maiores metrópoles brasileiras chegou ao dia de votar com pouco ou nenhum interesse pela eleição, como as pesquisas do Ibope em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro revelaram.

Não é coincidência que o desinteresse e volatilidade sejam maiores nas grandes cidades, onde o eleitor está mais distante do candidato e do governo. Nos municípios menores, onde o eleitor conhece o prefeito pessoalmente e o trata pelo apelido, 63% dizem escolher seu candidato logo no início da campanha, ao ficar sabendo quem são os candidatos.

Há outra diferença importante entre as eleições de prefeito nas grandes e pequenas cidades. Nas metrópoles e capitais, a principal fonte de informação para o eleitor escolher seu candidato é a TV: 36% citam-na como maior influenciador do voto.

Nas cidades até 50 mil habitantes, a TV é secundária. Conversas com parentes e amigos são protagonistas: 27% dizem que é assim que escolhem em quem votar, contra 13% nas cidades grandes. A TV é o principal influenciador para só 19% nas pequenas cidades. Já os debates entre candidatos têm o dobro do peso nas metrópoles.

A dificuldade de conhecer o candidato de perto, a falta de discussão sobre política com amigos e parentes e a intermediação da relação com os representantes pela TV parecem aumentar o desinteresse pelo processo eleitoral nas maiores cidades brasileiras e, por tabela, a mutabilidade das intenções de voto. Por isso, são as capitais também do voto improvisado.

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