Mudar para voltar

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Por Jose Roberto de Toledo
Atualização:

Governadores sentem saudades de 2010. Naquela eleição, a chance deles voltarem ao cargo pelas urnas era duas em três. Aí veio 2013 com suas ruas agitadas e tudo mudou. A mesma inquietude que ameaça abreviar a quadrilogia que o PT tenta emplacar no Cine Alvorada afeta a bilheteria nos Estados. Reprises e sequências vão sair de cartaz? Quando sim, por filmes ainda mais antigos.

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Comparemos o ranking Ibope dos governadores de 2010 com o de 2014 - elaborado pelo instituto a pedido do Estadão Dados.

Em 2010, por esta época do ano, só três governadores tinham saldo negativo na sua avaliação pelos eleitores. O 1º do ranking tinha 76% de aprovação. Na média dos 27, a taxa de ótimo+bom chegava a 47%, contra apenas 16% de ruim+péssimo - saldo médio de +31 pontos. Tanta popularidade acabou em quebra de recorde: dos 20 que tentaram, 10 se reelegeram já no primeiro turno. Outros três venceram o turno final. Total: 65% de reeleitos.

A eleição de 2014 nos Estados está mais para suspense do que para o romance de quatro anos atrás. Quase triplicou a quantidade de governadores mais mal do que bem avaliados. São sete no vermelho e um na margem de erro. Do último classificado para o menos pior: Rio Grande do Norte (saldo negativo de 63 pontos), Amapá (-44 pontos), Distrito Federal (-34), Mato Grosso (-20), Alagoas (-17), Maranhão e Rondônia (-1) e Roraima (+2).

Não foi só na parte de baixo da tabela que a aprovação dos governadores piorou. Os que estão no azul têm um saldo mais baixo do que tinham quatro anos atrás. Na média das 27 unidades da Federação, a taxa de ótimo+bom dos governadores caiu para 33%, e a de ruim+péssimo subiu para 26%. O saldo médio de popularidade despencou para +7 pontos. É 77% menor do que era.

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Primeiro colocado de 2014, o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (58% de ótimo+bom menos 9% de ruim+péssimo = +49 pontos de saldo), está mais de 20 pontos abaixo do que era o saldo do mais bem avaliado em 2010. Ele próprio tinha saldo maior há quatro anos do que agora. E os seus +52 pontos de então deixavam Puccinelli apenas na 5ª colocação em 2010.

O líder do ranking não é candidato porque já foi reeleito há quatro anos. Mas a perda de popularidade generalizada não desanimou os governadores em primeiro mandato: 18 deles são candidatos à reeleição. Embora a quantidade seja semelhante à de quatro anos atrás, há uma diferença fundamental. Em 2010, uma boa colocação no ranking do Ibope era quase certeza de vitória. Não mais.

Dos 13 governadores que tinham saldo de avaliação superior a +30 em 2010, apenas um não se reelegeu. Em 2014, só Beto Richa no Paraná e José Melo no Amazonas se encaixariam nessa faixa. Mas nem mesmo para eles a eleição está garantida. Ao mesmo tempo, Geraldo Alckmin, com apenas +24 pontos de saldo de avaliação em São Paulo, corre livre e pode levar no primeiro turno.

Diminuiu a força da correlação entre popularidade e intenção de voto. Um dos motivos é que um terço dos incumbentes é de vice-governadores que assumiram o governo há pouco tempo. São menos conhecidos e, por isso, muitos eleitores respondem "não sabe" ao avaliá-los. Isso diminui sua taxa de aprovação ou rejeição.

O outro motivo, talvez mais importante, é que muitas das alternativas aos governadores que tentam se reeleger não são renovação. Os incumbentes enfrentam ex-governadores, como Eduardo Braga no Amazonas, Roberto Requião no Paraná e Iris Rezende em Goiás. Quando não é um ex-governador, é seu filho - caso de Helder Barbalho no Pará. É mudar para voltar.

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O melhor exemplo vem do Espírito Santo. Atual governador, Renato Casagrande disputa contra o antecessor, Paulo Hartung. Em 2010, Hartung apoiou Casagrande. Agora, o enfrenta. Não importa quem ganhar, os capixabas terão um antigo governador de novo.