O sexo dos candidatos: machismo partidário limita candidaturas de mulheres

(coluna publicada na edição impressa do Estado)

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Por Redação
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Os cerca de 20 mil candidatos às eleições de outubro não são um espelho preciso da sociedade que pretendem representar. Suas diferenças em comparação à média do eleitorado brasileiro chamam mais a atenção do que eventuais semelhanças.

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O candidato típico é homem, tem 48 anos de idade, tem nível superior e é político profissional (ou empresário, ou funcionário público).

O eleitor típico é mulher, tem pouco mais de 40 anos, não foi além do ensino fundamental e é assalariada do setor privado (ou tem uma ocupação informal).

As chapas são dominadas por uma elite partidária tão afeita ao poder que, ao preencher sua ocupação no registro de candidatura, seus membros escrevem "deputado" ou "vereador". Ao menos 1.885 candidatos fizeram isso, tornando a "profissão" de político a mais comum entre os postulantes.

Das discrepâncias entre o perfil dos eleitores e o dos potenciais eleitos, a que mais chama a atenção é a de gênero. Apesar de as mulheres serem maioria do eleitorado, elas não passam, em 2010, de 21% do total de candidatos às assembleias legislativas e à Câmara dos Deputados.

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A legislação prevê pelo menos 30% de candidatas mulheres para cargos proporcionais, mas não é cumprida desde sempre. Em 2006, menos de 9% das cadeiras da Câmara dos Deputados foram preenchidas por mulheres. "O partido é o grande funil, não o eleitorado", afirma a socióloga Fátima Pacheco Jordão, uma estudiosa do tema.

A soma da intenção de voto de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) nas pesquisas presidenciais mostra que a maioria dos eleitores não tem nada contra candidatas. Ao contrário: mulheres já foram eleitas prefeitas e governadoras do Rio Grande do Sul ao Pará, por diferentes legendas. Mas dentro das agremiações políticas, o volume de filiadas não se reflete na cúpula.

Na composição dos principais órgãos de comando dos partidos, a proporção de mulheres é decorativa. No DEM, de 57 membros da comissão executiva nacional, só 4 são do sexo feminino. No PSDB, são 4 mulheres para 42 vagas. No PMDB, entre os 25 dirigentes, só há duas mulheres. No PT a participação é um pouco maior, mas ainda minoritária: 6 mulheres entre 21 caciques.

Fecha-se um circuito viciado: homens preterem mulheres no preenchimento das chapas partidárias, menos mulheres são eleitas, homens mantêm a maioria dos cargos de mando dentro dos partidos. Perpetua-se o machismo.

Praticamente nenhuma sigla escapa. Na eleição para a Câmara dos Deputados, apenas um partido respeita a cota mínima de candidatas do sexo feminino na disputa de 2010: o PCO (Partido da Causa Operária), com 50% de mulheres -embora elas sejam só 4.

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Entre os grandes partidos, o PSDB está na média da desigualdade de gênero no pleito para deputado federal: 79% de candidatos homens e apenas 21% de mulheres. PMDB e PT têm uma proporção equivalente: 22% de postulantes do sexo feminino. Já o DEM tem apenas 14% de candidatas mulheres para a Câmara.

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Na disputa dos cargos majoritários, a desproporção é ainda maior. A eleição para o Senado este ano tem 34 mulheres entre os 265 candidatos, ou seja, elas conseguiram 13% das vagas. E no pleito para os governos estaduais, há 18 candidatas num total de 167, o que significa só 11% de mulheres.

É um problema global, inscrito nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Mas o Brasil está ficando para trás. O Congresso argentino, por exemplo, tem uma proporção de mulheres três vezes maior do que o brasileiro.

A questão vai além do sexo do chefe de governo. Trata-se de assegurar a participação das mulheres em todas as arenas políticas. Relatório das Nações Unidas mostra que congressistas mulheres têm prioridades diferentes das dos homens, beneficiam mais as crianças e a família. E há ao menos três estudos que correlacionam o aumento da participação feminina no poder com menores níveis de corrupção.

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