A janela democrática

A população brasileira amadureceu, em mais de um sentido. E, com ela, a democracia no País. A frase soa pomposa, até meio melodramática, mas é apenas uma questão de tempo e oportunidade.

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Por Redação
Atualização:

A maior geração brasileira de todos os tempos tem hoje entre 20 e 30 anos de idade. Numa feliz coincidência, os "babyboomers" de Pindorama chegaram à idade de trabalhar num momento de franca expansão das vagas de emprego no País.

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A oferta de uma coorte numerosa e mais escolarizada que as anteriores casou com a demanda crescente por mão-de-obra. Isso cria condições muito favoráveis para o Brasil explorar sua "janela demográfica".

Como uma pessoa, uma nação envelhece. O peso das camadas idosas aumenta e o dos jovens diminui à medida que cai a taxa de filhos por mulher. É o problema enfrentado há tempos pela maioria dos países europeus.

Antes disso, porém, há um período áureo, em que a população em idade ativa cresce em proporção aos escolares e aposentados. Há mais gente produzindo e gerando riqueza. Com menos dependentes jovens e ainda relativamente poucos idosos, o PIB per capita cresce.

Durante esse intervalo, há uma oportunidade de desenvolvimento acelerado, como ocorreu com os EUA na segunda metade do século passado. A janela demográfica gringa teve seu auge nos anos 60 e 70, um período de grande ebulição cultural e econômica.

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O fenômeno se repetiu com os "tigres asiáticos" nos anos 80 e 90. A América Latina e o Brasil sentem os ventos do desenvolvimento passando por sua janela demográfica. A capacidade de aproveitá-los depende de um sistema político estável e sensível às mudanças.

Um estudo do Ibope apresentado nos EUA durante reunião mundial de pesquisadores aponta a coincidência entre a janela demográfica e o amadurecimento da democracia brasileira.

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A série de sinais captados em pesquisas qualitativas e quantitativas mostra que o comportamento do eleitor está cada vez mais pragmático e maduro. O voto é menos impulsivo e mais refletido. O eleitor pondera o que tem a ganhar ou a perder com os candidatos.

Cresceu também a convicção de que votar faz diferença e vale a pena. No mês passado, recordes 72% dos brasileiros disseram que iriam às urnas mesmo se não fosse obrigatório. Na eleição de Barack Obama, votaram 62% dos eleitores aptos, maior taxa desde os anos 60 nos EUA.

No Brasil de 2010, houve um crescimento de surpreendentes 10 pontos porcentuais desde março. Isso é sinal de que a campanha eleitoral motivou positivamente os brasileiros, e fez crescer seu desejo de participação política. Essa tendência, porém, vem de antes. Desde 2005, pelo menos.

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No começo da década, 51% dos brasileiros diziam que não votariam se não fossem obrigados. A taxa de eleitores voluntários cresceu lentamente nos anos seguintes. Só houve um salto significativo em 2006, ano de campanha para presidente e governador.

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Esse sinal de fé na democracia representativa é consequência de seis eleições ininterruptas para os principais cargos do País. Que produziram quatro mandatos presidenciais seguidos com inflação controlada, aumento do consumo e estabilidade institucional.

Fica evidente nas pesquisas do Ibope que o brasileiro valoriza a continuidade das políticas públicas de sucesso, seja o Plano Real ou o Bolsa Família, e entende que o voto é seu instrumento para avalizá-las.

Esse quadro positivo não significa que o Brasil esteja condenado a dar certo. A janela demográfica é uma oportunidade a ser explorada. Excesso de mão-de-obra combinado com falta de emprego, por exemplo, é receita para instabilidade política.

O momentum populacional também pressiona a demanda por melhores serviços de saúde e pela preparação da Previdência Social para a etapa seguinte, de envelhecimento da população e aumento da taxa de dependência.

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Daí a enorme responsabilidade da atual geração de governantes, de aproveitar a janela demográfica e democrática, investir em oportunidades e capacitação dos babyboomers e começar uma poupança para quando essa onda chegar à idade de se aposentar.

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