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O destino do foro privilegiado

Ao decidir sobre o processamento do Governador Fernando Pimentel, o STF criou um precedente relevante para todos os governadores do país, para a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como entre União e Estados. Muito mais do que uma decisão sobre a Constituição de Minas Gerais, se trata de um ajuste relevante nos sistemas de foro privilegiado, de equilíbrio federativo e de separação de poderes.

Por Supremo em Pauta
Atualização:

Pela Constituição Federal, o Presidente somente se torna réu em ação penal se houver autorização do Legislativo. A maior parte das constituições estaduais reproduziu esse modelo, estabelecendo que governadores somente se tornariam réus com a autorização da respectiva assembleia legislativa. Contudo, como a Constituição de Minas excluiu esse mecanismo, questionou-se ao STF se essa modificação no sistema era lícita ou se feria a lógica do modelo de separação de poderes.

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A maioria dos ministros entendeu que a previsão da Constituição Mineira é lícita porque cada Estado deve ter a liberdade para optar por seu modelo para processamento de governadores, extinguindo a exigência que vigorava até então, de que os Estados deviam copiar o modelo da União. Os ministros Alexandre de Moraes e Marco Aurélio, inclusive, já sinalizaram em seus votos a orientação pela inconstitucionalidade de toda e qualquer previsão estadual que disponha sobre essa exigência.

Além disso, os ministros decidiram que o fato de um governador se tornar réu não gera um afastamento automático do cargo. O Supremo decidiu que essa é uma decisão que o STJ terá que tomar caso a caso, transferindo para o Judiciário uma boa parcela da responsabilidade sobre a continuidade do mandato de governadores investigados.

A princípio, essa decisão já deveria estabelecer uma regra para todos os Estados e Governadores. Contudo, ainda está no horizonte de possibilidade que o Supremo realize ajustes ou reconheça exceções ao julgar os processos de outros Estados. O que há por enquanto é uma indicação forte de autonomia dos modelos regionais.

No atual contexto em que o Senado propõe a extinção do foro privilegiado, o Supremo defende o aperfeiçoamento do modelo vigente. O destino da força das elites políticas do país será diretamente afetado por essa disputa entre STF e Congresso.

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Livia Gil Guimarães e Rubens Glezer, Pesquisadora e Coordenador do Supremo em Pauta da FGV Direito SP

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