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Impopular, impune e presidente

Por Supremo em Pauta
Atualização:

A decisão do plenário da Câmara dos Deputados concede imunidade frente às acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro feitas em denúncia baseada nas conversas nada republicanas do presidente com Joesley Batista, no vídeo de Rocha Loures com sua mala de dinheiro.

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Essa imunidade impede que as investigações prossigam enquanto Temer ocupar a Presidência, mas não afeta a apresentação de novas denúncias, nem que se dê continuidade às investigações após Temer deixar o cargo.

Em curto período, a Câmara dos Deputados teve a oportunidade de selar o destino de dois presidentes. O clima, entretanto, foi muito distinto da votação do impeachment: se outrora houve festa, agora imperou o constrangimento. A maior parte dos deputados proferiu um rápido "sim" ao relatório da CCJ que recomendou o não prosseguimento da denúncia.

No auge da Operação Lava Jato, com dezenas de deputados investigados e denunciados, a decisão da Câmara é uma ode à impunidade. A enorme impopularidade de Temer não assustou os deputados, que fiaram o presidente, demonstrando a peculiar empatia entre iguais; afinal, Temer tem sua história política fundada na Câmara dos Deputados e compartilha a condição de investigado por crimes comuns com outros tantos parlamentares.

Uma outra parte deles creditou o voto de imunidade à necessidade de avançar com uma agenda de reformas, a qualquer custo. Porém, a margem de vitória indica que não há fôlego para grandes planos. O futuro de Temer pode piorar caso o Procurador Geral ofereça novas denúncias criminais nas próximas semanas e a Câmara tenha que, novamente, votar sobre isso. Direcionando recursos para salvar a si mesmo, enfraquecido por denúncias e sem conseguir produzir uma proposta de reforma previdenciária justa, que não afete aos mais pobres e acabe com privilégios, não há nenhuma garantia de que Temer consiga entregar o que prometeu.

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A imunidade conferida a Temer denota indiferença da classe política com a vontade dos eleitores e com a pauta contra a corrupção, que tem mobilizado o país desde o mensalão. O resultado é o enfraquecimento do Legislativo e do Executivo e a produção de um presidente impopular e impune, mas ainda assim presidente.

Eloísa Machado de Almeida, professora e coordenadora do Supremo em Pauta FGV Direito SP

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