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Ustra desafia ex-preso político e ironiza Comissão da Anistia

O site A Verdade Sufocada divulgou uma carta aberta atribuída ao coronel da reserva Carlos Alberto Ustra, na qual desafia um ex-preso político a provar as torturas que diz ter sofrido no DOI-Codi de São Paulo. Em tom irônico, desafiador e às vezes sarcástico, a carta também investe contra a Comissão da Anistia, criada para promover reparações de violações de direitos humanos ocorridas no período do regime militar.

Por Roldão Arruda
Atualização:

Ustra, hoje com 80 anos, chefiou o DOI-Codi do 2.º Exército no período de 1970 a 1974 e é apontado por organizações de direitos humanos como um dos mais notórios torturadores do regime militar. A carta aberta é endereçada especificamente ao médico e vereador paulistano Gilberto Natalini (PV), por causa de declarações feitas ao jornal Folha de S. Paulo. Ele disse que foi torturado por Ustra quando esteve preso.

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Natalini, que militou na organização de esquerda Molipo e hoje integra a Comissão da Verdade da Câmara Municipal, afirmou: "Ele me batia com uma vara de cipó... Me bateu durante várias horas e me obrigou a declamar poesias nu e diante dos soldados para me humilhar."

Na carta aberta, o Major Tibiriçá, codinome de Ustra nos porões da repressão, pede ao vereador que cite, uma a uma, as datas de prisão, período de detenção, julgamento na Justiça Militar, condenação, entre outras. "Para dar maior credibilidade às suas declarações", desafia.

Ele põe em dúvida as declarações de Natalini e de centenas de outros ex-presos políticos que passaram pelo DOI-Codi, como se existisse uma espécie de complô: "Certamente, como é comum entre os que me acusam, o senhor já terá as testemunhas que o viram ser torturado por mim e que também se dirão torturadas."

O militar da reserva ainda ironiza as medidas tomadas pelos governos democráticos em relação às vítimas de prisões arbitrárias e torturas, entre elas as indenizações pagas pela Comissão da Anistia: "O senhor, só pelo fato de ter passado quatro meses no DOPS, deve ter recebido uma excelente indenização desta Comissão."

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O site que publica a carta foi organizado e é mantido por Ustra, que hoje vive em Brasília, e outros ex-agentes da repressão política no período do regime militar. A carta aberta é datada de 2 de setembro, cinco dias após a publicação das declarações.

O vereador que foi processado pela Justiça Militar por sua participação no Molipo, a mesma organização à qual pertencia o ex-ministro José Dirceu, não teria dificuldade para reunir as informações pedidas. Mas ele não pretende responder.

Em rápido comentário sobre a iniciativa de Ustra, Natalini observou que ele tenta voltar ao papel de inquisidor: "Quem deve responder às perguntas hoje, perante a Comissão da Verdade, é o coronel Ustra. Quando ele vier prestar depoimento, pode vir tranquilo. Garanto que não usaremos os mesmos métodos que ele utilizava no DOI-Codi."

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