De fato, essa diferença não é mencionada no texto. A informação está contida apenas no gráfico que o acompanha na edição impressa do jornal - e cujos números são utilizados pelo jornalista e ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer seu comentário.
A esse respeito poderiam ser lembradas outras coisas, já conhecidas de analistas políticos. A primeira delas é que o único partido do País que pontua de maneira significativa nesta questão - quando se pergunta ao eleitor qual a sua preferência partidária -é o PT. A pontuação dos outros é tão pequena que, considerando-se a margem de erro estatístico, nem chega a ser considerada para análises.
O peso do PT é tão forte no cenário político e eleitoral que, em alguns pleitos, o que se vê é a divisão entre os que apoiam o partido e sua políticas e os que são contra. Daí a atenção dada à variação do índice de preferência partidária envolvendo a legenda que surgiu no início da década de 1980 - apartir de movimentos sindicais e populares. Daí também o destaque à desidratação do partido na periferia de São Paulo, onde, historicamente, reside o núcleo forte de seu eleitorado.
Para entender melhor a questão, vale notar ainda que não foi só em São Paulo e na periferia que o PT encolheu sob o efeito dos protestos de rua registrados em junho. Uma rápida pesquisa nos números acumulados pelo Instituto Datafolha mostram uma queda acentuada da preferência em todo o País, especialmente entre os jovens.
Chama a atenção o fato de o índice de preferência pelo PT ter deslizado, pela primeira vez nos últimos anos, para um nível abaixo de 20 pontos na preferência do eleitorado. A título de exemplo, pode-se pegar o resultado da pesquisa realizada pelo Datafolha no dia 31 de abril do ano passado e compará-la com a de 28 de junho deste ano, logo após a grande onda de protestos: a queda foi de 31% para 19%.
Quando se considera apenas os jovens, entre 16 e 24 anos, verifica-se uma desidratação mais intensa. Entre eles, a preferência petista desceu de 32% para 15% no mesmo período.
Se for tomado um período mais curto, a variação parece mais dramática. No dia 7 de junho deste ano, quando os protestos estavam começando, 24% dos jovens declaravam preferência pelo PT. Menos de um mês depois, no dia 28, como já se viu, o índice caiu para 15%.
Como ocorreu com os eleitores da periferia de São Paulo, a preferência não foi transferida para outros partidos. O que cresceu foi o descrédito com as legendas. No conjunto de entrevistados pelo Datafolha, os que declaram não ter preferência partidária passou de 51% para 64% entre abril do ano passado e junho deste ano. Entre os jovens a variação foi de 55% para 67%.
Uma última observação: todos esses números oscilam bastante, para cima e para baixo, especialmente entre os jovens. Não significam, portanto, uma situação irreversível. É um instantâneo, sob o efeito de situações conjunturais.
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