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Na missa do padre Marcelo, mudou a agenda dos milagres

Em 1998, a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Santo Amaro, ficou pequena para os fiéis que acorriam à chamada Missa da Libertação, celebrada pelo padre Marcelo Rossi. A cada celebração eram quase cinco mil pessoas, que acabavam se esparramando pelas ruas ao redor do templo.

Por Roldão Arruda
Atualização:

Os vizinhos reclamaram e o padre encontrou um lugar maior, um antigo salão de shows musicais, conhecido como Gonzagão. A festiva inauguração do novo local de orações aconteceu no dia 12 de fevereiro daquele ano, com a presença de cerca de dez mil pessoas, segundo a Polícia Militar.

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Encarregado da cobertura de assuntos religiosos do Estado, eu estava lá - e publiquei uma reportagem no dia seguinte. Duas coisas me impressionaram. A primeira foi a presença de mulheres: de cada dez presentes, pelas minhas contas, nove eram do sexo feminino.

A segunda foi o tipo de milagres que a maioria desejou, no momento em que o padre pediu que erguessem para o alto os objetos que desejavam ver abençoados. O que mais apareceu foram carteiras de trabalho. Eram impossível contá-las.

 Foto: Estadão

As mulheres pediam emprego para elas, os maridos e os filhos. Algumas das quais com quem conversei também pediam a formalização do trabalho. "Vim pedir a Jesus para que a empresa onde o meu filho trabalha registre ele na carteira", me disse Maria de Fátima Silva, exibindo a carteira e a foto do filho.

Passados 14 anos, nesta quinta-feira, 4, voltei, novamente por dever de ofício, a assistir a mais uma celebração da missa do padre Marcelo, em Santo Amaro. No momento em que ele e o bispo d. Fernando Figueiredo pediram aos fiéis que erguessem para o alto objetos a serem abençoados, virei para trás, à procura das carteiras de trabalho, mas tive uma surpresa. Apareceram celulares, bolsas, chaves de carro e de residências, retratos de parentes, carteiras de motorista, DVDs, receitas médicas, velas, flores, mas pouquíssimas carteiras de trabalho.

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Ali mesmo comentei o fato com a assessora de um candidato a prefeito, veterana em campanhas, que se encontrava ao meu lado. E ela respondeu, de bate-pronto: "Não foi só aqui. Na eleição presidencial de 2002, quando os candidatos saíam nas ruas, o que mais ouviam eram pedidos de emprego. Agora as demandas são outras, os eleitores querem saber de saúde, educação, transporte e segurança."

 Foto: Estadão

Mais tarde, na saída da missa, também comentei o fato com o bispo d. Fernando, que sorriu e balançou a cabeça, concordando.

Pode ter sido coincidência. Também pode ser que, no balanço da economia mundial, esse quadro mude logo adiante. Mas o fato palpável agora é esse: mudou a agenda dos pedidos de milagres endereçados ao céu (e aos políticos).

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