Lembro também de uma campana, um interminável plantão de reportagem que cumpri diante da imponente entrada de carros de um condomínio na região dos Jardins. Lá em cima, na biblioteca do apartamento do empresário Ivoncy Ioschpe, Lula conversava com alguns dos mais poderosos empresários e executivos do País.
Era agosto de 2005 e o governo atravessava a sua primeira grande crise. A conversava ia e vinha entre o chamado mensalão e um novo escândalo envolvendo o nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci - um ex-trotskista que havia adquirido enorme habilidade no trato com os banqueiros.
Lula foi uma das últimas pessoas a deixar o edifício. Nem olhou para os repórteres. Soube-se mais tarde, por relato dos convidados, que um de seus principais interlocutores na noite foi Paulo Setubal, também ligado à família que controla o Itaú.
Lembro, para finalizar, do informe do Banco Santander que apontou a presidente Dilma como responsável pela piora no quadro econômico do País. Os petistas reagiram com justa indignação. Os tucanos teriam feito o mesmo se algum analista do mercado financeiro tivesse enfiado na correspondência dos seus correntistas qualquer informação que pusesse em dúvida a capacidade de Aécio Neves para dirigir a economia brasileira.
O detalhe que chamou minha atenção no episódio foi a maneira como o presidente Lula reagiu. Ao dizer que o informe não podia ser atribuído ao espanhol Emilio Botin, presidente do quarto maior banco do mundo em termos de lucros, procurou demonstrar certa intimidade com o banqueiro, chamando-o em mais de um momento pelo nome, como se fossem amigos. "Não foi o Botin que escreveu isso", afirmou.
Nesse cenário, no qual dois políticos que vieram das camadas mais populares do País mostram intimidade com filhos ou representantes da elite financeira, o que pode contribuir para melhorar o debate e esclarecer o leitor não é nenhum tipo de demonização de pessoas, mas sim a análise e a comparação daquilo que propõem e fazem.
Marina vai defender a autonomia do Banco Central garantida em lei - uma ideia que ela não aceitava até recentemente. O que tal iniciativa muda na vida dos cidadãos? O que a Dilma vai fazer em relação a isso? Qual das duas vai manter as taxas de juros nos patamares atuais? Quem vai rebaixá-las?
Se Dilma tem uma proposta que favorece menos o capital financeiro e acha isso importante, ela que trate de explicitar a diferença nos debates com Marina e Aécio.