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Movimentos, direitos, ideias

Gravidade da crise política reacende interesse por debates

Na tarde de um sábado chuvoso em São Paulo, cerca de mil pessoas se reuniram para ouvir um debate sobre a crise. Público era composto principalmente por jovens. A impressão é de que a esquerda começa a acordar para reavaliar o seu futuro

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Por Roldão Arruda
Atualização:

A crise política,marcada pelo avanço do conservadorismo, está reanimando o gosto pelo debate sobre conjuntura e grandes questões nacionais. Especialmente entre setores de esquerda. Alguns fatos ocorridos em São Paulo nos últimos dias ilustram essa tendência.

Um deles foi o debate Manifestações e Crise Política: a Nova Conjuntura Brasileira, na USP. Organizado pelo Centro de Estudos dos Direitos de Cidadania e o Laboratório de Estudos Marxistas, o encontro estava programado para um auditório pequeno, no prédio da Faculdade de Ciências Sociais. Eram aguardadas uma duzentas pessoas para ouvir os professores André Singer, Ruy Braga e Vladimir Safatle, no final da tarde de sexta-feira, dia 20.

 Foto: Estadão

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Pouco antes de seu início, porém, o debate teve que ser transferido para um auditório maior, na Faculdade de História. O número de pessoas que apareceu passou de 600.

O deputado federal Ivan Valente, do PSOL de São Paulo, enfrentou uma situação semelhante, no caso do debate Direitos Sociais e Ameaça Conservadora, organizado por seu escritório político. Eles também previram que o número de interessados não passaria de 200.

O número de confirmações e inscrições pelas redes sociais, porém, surpreendeu os organizadores e provocou alteração nos planos. Pouco antes da data prevista, o dia 21, mudaram o local do evento para a quadra do Sindicato dos Bancários, na Rua Tabatinguera, no centro de São Paulo.

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Apareceram cerca de mil pessoas. Um número notável para um debate sobre política, especialmente quando se considera que era uma tarde chuvosa de sábado.

Eu estive na quadra. A estimativa de pessoas presentes é minha. Há muito tempo não via nada igual. Além do elevado número de participantes, me surpreendi com a atenção e o silêncio com que ouviram as exposições. Eram jovens em sua maioria.

Na mesa estavam o cientista político André Singer; o escritor Frei Betto, ligado às comunidades eclesiais de base (CEBs) e movimentos sociais; Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; Brena Menezes, da Intersindical; e o deputado do PSOL. Logo no início de sua exposição, Singer, que é vinculado ao PT, apontou o que pode ser a razão do crescente interesse dos jovens pelo debate.

 Foto: Estadão

Ele disse: "Esse é o começo de uma crise política importante, que está colocando questões importantes e centrais para a luta de classes no Brasil - como talvez não tenha sido colocado desde 1964."

Sobre o atual momento político, Singer também observou: "É possível termos que enfrentar quatro anos de grande turbulência política e social. Isso é muita coisa, é um período muito prolongado, que pode se prolongar ainda mais. Quando começa uma crise, o seu fim é imprevisível."

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Um dos presentes ao debate do sábado, na quadra do sindicato, era Kauê Scarim, estudante de jornalismo da Universidade de Brasília, militante do PSOL e integrante da coordenação da UNE. De acordo com suas observações, o público presente não era constituído só de pessoas ligadas ao PSOL.

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"A maioria não era", disse ele. "Muitos jovens nem eram de partidos. Estavam interessados em entender o momento político, o que é muito positivo", disse Kauê.

Outro exemplo, de menor proporção, desse movimento para discutir e entender a conjuntura, foi uma palestra do filósofo Renato Janine Ribeiro sobre o avanço da extrema-direita. Organizado pelo pelo grupo cultural Quintal Amendola e com número de inscrições bastante restrito, o evento deveria reunir cerca de vinte pessoas. O número de interessados logo passou a casa de 50, o que obrigou os organizadores a transferir o evento para um lugar maior.

A impressão é de que não foi só a direita que acordou.

 

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