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Movimentos, direitos, ideias

Extrema-direita avança com ódio aos direitos humanos, diz filósofo

Na avaliação do filósofo Renato Janine Ribeiro, da USP, a extrema-direita no Brasil adotou uma agenda voltada para a área de costumes, com "ódio cabal aos direitos humanos". Em palestra em São Paulo, ele disse que o risco no atual cenário político é a contaminação da direita liberal pela extrema-direita

Por Roldão Arruda
Atualização:

Em palestra proferida em São Paulo, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da cadeira de Ética e Filosofia Política da USP, afirmou que os grupos políticos de extrema-direita no Brasil estão voltando suas atenções sobretudo para a área de costumes - o que envolve as questões de gênero e os direitos de minorias, como os homossexuais. "O que distingue a extrema-direita hoje no Brasil é quase que mais uma agenda de costumes do que uma agenda política", afirmou. "A extrema-direita está se distinguindo do restante por um ódio cabal aos direitos humanos."

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Antes de falar sobre a forma como a extrema-direita age, o professor observou que no Brasil ainda existem preconceitos fortes em relação a expressões como direita e esquerda e que isso torna o diálogo político mais difícil. Ao definir os dois grupos do ponto de vista da ideologia, disse que a direita defende uma sociedade mais competitiva, com pouca interferência do Estado; e que a esquerda quer programas sociais mais intensos, com maior presença do Estado.

Para a esquerda a questão básica seria a redução das desigualdades. Para a direita, a liberdade, sobretudo a liberdade de empreender. O ideal, do ponto de vista político, seria conseguir um "diálogo bem falante" entre direita e esquerda.

O diálogo não é possível, porém, com grupos extremistas. Enquanto a direita e a esquerda são democráticas, defensoras da liberdade e dos direitos humanos, a extrema-direita e a extrema-esquerda são contrárias a esses princípios, observou o palestrante.

Ao se referir ao quadro partidário e ao Congresso, disse que não existem evidências de ação de grupos de extrema-esquerda no atual momento político. A extrema-direita, no entanto, estaria presente em vários partidos, destacando-se com ataques à liberdade de costumes.

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"Atacam o homossexual, a igualdade de gênero, os direitos das mulheres, e por aí. Tudo isso tem um alcance muito grande no Brasil", assinalou.

Ainda sobre os riscos potenciais da ação da extrema-direita, Janine observou: "O perigoso no Brasil, de certa forma, é a extrema-direita ir se aproximando da direita e contaminando, a ponto de seu apoio se tornar essencial."

O cenário é delicado, segundo o filósofo. "A extrema-direita quer aumentar o seu cacife, mas a direita não vê as coisas dessa maneira. Para ela interessa uma extrema-direita radical, que não conhece limites, mas que não se torne hegemônica. Esse é um ponto delicado. A extrema-direita se tornará hegemônica se começar a conquistar gente da oposição, se a oposição começar a achar que o discurso brutal é correto."

Sobre essa questão ele também disse: "Estamos tendo no Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que deveriam ser tipificadas como criminosas... Pregar a volta dos militares deveria ser crime, deveria levar a pessoa para a cadeia. Vários países da Europa criminalizaram a pregação nazista. Nós - que tivemos uma ditadura militar - deveríamos criminalizar a pregação da ditadura."

Na palestra que se estendeu por quase duas horas, com perguntas dos convidados, Ribeiro fez críticas à ação do PSDB e do PT e falou de políticas sociais do governo, impeachment, corrupção e insatisfações da classe média, entre outros assuntos. O encontro aconteceu na terça-feira, 10, e foi organizado pelo Quintal Amendola - uma organização que se apresenta como "espaço para discussão, debate e aprendizado".

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