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Um novo modelo econômico para o Brasil: mais déficit em conta-corrente, menos reservas. É o que recomenda o FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda que o Brasil mantenha os atuais déficits em conta-corrente, em vez de voltar para os superávits pré-crise. E o FMI aconselha os países da América Latina a evitar acumulação excessiva de reservas. Em vez disso, deveriam usar linhas flexíveis do Fundo como "seguro" contra fugas de capital em crises internacionais. As economias da América Latina deveriam "ser importadoras de capital e continuar a registrar déficits em conta-corrente perceptíveis, mas há certa relutância entre esses países, que não querem depender de capital externo, muito volátil", disse Jörg Decressin, chefe da divisão de estudos da economia mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI). Decressin disse ao Estado que, a longo prazo, "mais capital deve entrar nesses países, que poderão ter déficits em conta-corrente maiores".

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Por Redação
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Segundo ele, esse seria o papel dos países latino-americanos no ajuste dos desequilíbrios globais. Enquanto a China deve estimular seu mercado doméstico e reduzir sua poupança, e os EUA devem fazer o contrário, os latino-americanos deveriam parar com sua excessiva acumulação de reservas e superávits em conta-corrente. Os países da região, em geral, tinham um pequeno superávit em conta-corrente antes da crise e passaram a registrar um pequeno déficit . A idéia é que essas economias não mais acumulem reservas como forma de precaução contra crises financeiras - mas sim usem o FMI como o "acumulador de reservas" oficial. "Para facilitar esse processo, deveria haver garantias de que, toda vez que o capital privado sair do país por causa de problemas externos, capital oficial (como o do FMI) pode entrar para ajudar", disse Decressin ao Estado."Quando não existem essas garantias, os países usam os fluxos de capital para acumular reservas em vez de promover mais crescimento - obviamente, mais crescimento é melhor do que mais acumulação de reservas." Ele disse que o FMI já está oferecendo essas garantias com a "Linha de Crédito Flexível", um pacote já fechado com México, Colômbia e Polônia, que não exige muitas condições e é destinado a países com fundamentos mais sólidos. O Fundo tentou emplacar essa linha com o Brasil, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis o empréstimo, depois de ter quitado todas as pendências do Brasil com o Fundo.

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Ilan Goldfajn, economista-chefe do banco Itaú Unibanco, discorda da idéia do Fundo sobre a necessidade de reduzir as reservas nos emergentes. Durante seminário no FMI ontem, Goldfajn disse que a crise do ano passado provou a utilidade de altos níveis de reservas, e que daqui para frente haverá maior acumulação de reservas como um amortecedor

. Segundo o economista, com o enfraquecimento da demanda dos Estados Unidos, o mundo está em busca de um consumidor de última instância. E mercados domésticos de países como o Brasil são bastante atraentes. Goldfajn prevê um aumento dos investimentos diretos em países da América Latina, de olho nos mercados consumidores internos, com conseqüente valorização da moeda e aumento no déficit em conta-corrente. Ele prevê que o Brasil terá déficit em conta-corrente de 2,6% do PIB em 2010 e investimento estrangeiro direto equivalente a 2,33%. "Mas viu-se nessa crise que o nível de reservas ideal, para medidas de precaução, é maior do que pensávamos anteriormente", disse ele.

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