Segundo ele, esse seria o papel dos países latino-americanos no ajuste dos desequilíbrios globais. Enquanto a China deve estimular seu mercado doméstico e reduzir sua poupança, e os EUA devem fazer o contrário, os latino-americanos deveriam parar com sua excessiva acumulação de reservas e superávits em conta-corrente. Os países da região, em geral, tinham um pequeno superávit em conta-corrente antes da crise e passaram a registrar um pequeno déficit . A idéia é que essas economias não mais acumulem reservas como forma de precaução contra crises financeiras - mas sim usem o FMI como o "acumulador de reservas" oficial. "Para facilitar esse processo, deveria haver garantias de que, toda vez que o capital privado sair do país por causa de problemas externos, capital oficial (como o do FMI) pode entrar para ajudar", disse Decressin ao Estado."Quando não existem essas garantias, os países usam os fluxos de capital para acumular reservas em vez de promover mais crescimento - obviamente, mais crescimento é melhor do que mais acumulação de reservas." Ele disse que o FMI já está oferecendo essas garantias com a "Linha de Crédito Flexível", um pacote já fechado com México, Colômbia e Polônia, que não exige muitas condições e é destinado a países com fundamentos mais sólidos. O Fundo tentou emplacar essa linha com o Brasil, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis o empréstimo, depois de ter quitado todas as pendências do Brasil com o Fundo.
Ilan Goldfajn, economista-chefe do banco Itaú Unibanco, discorda da idéia do Fundo sobre a necessidade de reduzir as reservas nos emergentes. Durante seminário no FMI ontem, Goldfajn disse que a crise do ano passado provou a utilidade de altos níveis de reservas, e que daqui para frente haverá maior acumulação de reservas como um amortecedor
. Segundo o economista, com o enfraquecimento da demanda dos Estados Unidos, o mundo está em busca de um consumidor de última instância. E mercados domésticos de países como o Brasil são bastante atraentes. Goldfajn prevê um aumento dos investimentos diretos em países da América Latina, de olho nos mercados consumidores internos, com conseqüente valorização da moeda e aumento no déficit em conta-corrente. Ele prevê que o Brasil terá déficit em conta-corrente de 2,6% do PIB em 2010 e investimento estrangeiro direto equivalente a 2,33%. "Mas viu-se nessa crise que o nível de reservas ideal, para medidas de precaução, é maior do que pensávamos anteriormente", disse ele.