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Por Estadão
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 Foto: Estadão

Fui cobrir a audiência dos bispos da Igreja Renascer em Miami, na semana passada. No aeroporto, não pude deixar de me impressionar com a praticidade das coisas por aqui. No chamado check-in automático, você mesmo se registra em um terminal, só precisa de cartão de crédito ou passaporte. Aí a moça do balcão te chama, já com uma etiqueta para sua mala, e despacha sua bagagem.

E foi pensando nas maravilhas da vida prática americana que eu me estrepei.

"Espere aqui", disse a moça, olhando para mim com uma cara estranha.

Ela volta e diz: "Siga aquela moça."

"Por que?"

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"Just follow that lady."

Então tá bom. A tal lady me põe em uma fila separada e completa meu check in.

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"Pode se dirigir à área de segurança", sou instruída.

Na área de segurança, enquanto eu procuro meu passaporte, um guarda todo sorridente me diz: "Basta o cartão de embarque."

Mas no momento em que ele olha para o meu cartão de embarque, seu sorriso some. "Você, naquela fila." Aquela fila, no caso, tinha um cara segurando um passaporte do Paquistão, outro com passaporte da Nigéria. O fulano atrás de mim tinha jeito de sul-asiático. "De onde você é?" "Sou britânico." E eu explico :"Estou curiosa sobre o tipo de gente selecionada para ficar nesta fila." O paquistanês me olha com um sorriso resignado. "Ah, eu sou sempre SSSS" "Excuse me?" Ele aponta para o meu cartão de embarque e vejo lá as letras enormes - SSSS. "Já estou acostumado a ficar socializando com o pessoal da segurança do aeroporto", diz meu colega de fila paquistanês."É a primeira vez que você é SSSS?"

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Sou conduzida a uma máquina enorme, chamada Ionscan, que detecta explosivos e drogas.

"Não vai doer nada", garante o guarda, com aquela cara de dentista sádico. Uma dúzia de jatos de ar depois, estou fora da máquina.

Aí vem o exame minucioso da minha bolsa e mochila do laptop.

Óculos escuros, gravador, celular, câmera, dois esmaltes, escova e pasta de dente, chapstick, guardanapos de papel, recibos, fivelas, necessaire, chicletes, chave, ingresso de cinema de dezembro deo ano passado, agenda de 2005.

Fico sem graça. "Nada de armas, só lixo", digo. Coitada da segurança. Ela sorri.

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"Pode ir."

Faltam 15 minutos para o avião decolar. Corro até o portão. Embarco. Ufa.

Chego esbaforida ao meu assento. E começo a pensar nas pessoas que têm de passar por esse ritual de segurança todas as vezes, todos os árabes, africanos, sul-asiáticos que são submetidos ao chamado "racial profiling". Sobrevem uma melancolia.

Olho para o banco da frente e o que vejo? Embraer. Estou vingada. Sou uma orgulhosa brasileira, voando no avião feito na minha terra, que alegria.

Não me contenho: "Sabia que este avião é brasileiro?", pergunto ao meu vizinho com a maior pinta de cantor de hip hop.

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Ele me olha como se eu fosse um alien.

E eu sou mesmo. Um alien SSSS.

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