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Direto ao assunto

Lenha pra fogueira inimiga

Ao pedir tropas para proteger Porto Alegre no dia do julgamento de Lula, prefeito faz jogo do réu

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Por José Neumanne
Atualização:

Rui Ricardo Díaz interpreta Lula metalúrgico no filme de Fábio Barreto. Foto: Reprodução Globo Filmes

O pedido do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., do PSDB, para o governo federal enviar tropas do Exército e homens da Força Nacional para a cidade no dia do julgamento de Lula, é extemporâneo e fora de propósito. Só serve para por mais lenha na fogueira que o PT pretende armar nas ruas e parte do pressuposto de que há clima para isso. As mobilizações recentes tentando mostrar que o PT poderá por fogo no País se a condenação de Lula for mantida, especialmente se o for por 3 a 0 e a pena for mantida ou ampliada comprovam que não há, a não ser por parte do partido dele e de seus adversários do extremo oposto, da direita, não têm razão de ser. Parece ser o caso do prefeito. Calma, Bete.

(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado - FM 107,3 - na sexta-feira 5 de janeiro de 2018, às 7h30m)

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Abaixo, a íntegra da degravação do comentário:

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Eldorado 5 de janeiro de 2018 Sexta-feira

O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, solicitou apoio do Exército e da Força Nacional para atuarem no dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Federal Regional da 4ª Região, na capital gaúcha, previsto para 24 de janeiro. Há causa justa para esse pedido?

Não, não há. A direção do PT prepara um ato de recepção ao petista para a data. Marquezan é ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) e é crítico do petista nas redes sociais. Há motivo para esse pedido?

Lula foi condenado, em primeira instância, a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá. Se a condenação for confirmada, Lula pode ser impedido de disputar a eleição presidencial. O presidente irá a julgamento no dia 24.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse ao Estado que discorda com o emprego das Forças Armadas em Porto Alegre, como reforço à segurança da cidade, no dia 24 de janeiro, durante o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Anteontem o prefeito fez o pedido como medida preventiva aos protestos que estão sendo organizados por militantes do PT.

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"Não cabe à Prefeitura de Porto Alegre solicitar o emprego de Forças Armadas. Somente ao governo do Estado, e se houver perda de controle, o que não é o caso", declarou o ministro, acrescentando: "tampouco acho que haverá necessidade".

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Jungmann argumentou que a Polícia Militar de Porto Alegre "é muito bem preparada e equipada e sabe agir (em casos de distúrbio)". Ele avaliou que "estão maximizando esta situação". Jungmann avisou ainda que, será contra caso haja um novo pedido de emprego das tropas federais em Porto Alegre.

De fato, o ministro está coberto de razão. O pedido do prefeito é extemporâneo e fora de propósito. Só serve para por mais lenha na fogueira que o PT pretende armar nas ruas e parte do pressuposto de que há clima para isso. As mobilizações recentes tentando mostrar que o PT poderá por fogo no País se a condenação de Lula for mantida, especialmente se o for por 3 a 0 e a pena for mantida ou ampliada comprovam que não há, a não ser por parte do partido dele e de seus adversários do extremo oposto, da direita, não têm razão de ser. Parece ser o caso do prefeito. Calma, Bete.

A Operação Lava Jato mira mais um alvo ligado ao ex-presidente

Lula: o filme Lula, o Filho do Brasil, que conta sua história. Por quê?

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Pois é,De fato. já foram chamados para prestar depoimento o empreiteiro Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil/Fazenda - Governos Lula e Dilma). A Polícia Federal investiga o financiamento do longa metragem 'Lula, o filho do Brasil' e 'a participação de personagens envolvidos no tema, em especial Antonio Palocci Filho, junto a empresas'.

O filme conta a história de Lula, desde a infância dramática no sertão de Pernambuco, aborda sua chegada a São Paulo no pau de arara, as dificuldades que enfrentou ao lado da família, o trabalho na indústria metalúrgica, as históricas campanhas grevistas dos anos 1970 que marcaram o ABC paulista e a ascensão ao topo do sindicato que o consagrou e impulsionou sua trajetória política. 'Lula, o filho do Brasil' é uma biografia baseada no livro homônimo da jornalista Denise Paraná.

"A história é uma superação das perdas", disse, na época das gravações, o cineasta Fábio Barreto. "Meu trabalho é o de humanizar o mito vivo que é o Lula, só não vamos entrar na fase política." Na investigação da PF, o ex-ministro Palocci foi convocado para prestar depoimento em 11 de dezembro. Ele foi questionado pelo delegado Filipe Hille Pace sobre a relação que supostamente teria com a produção do filme. O ex-ministro declarou que 'deseja colaborar na elucidação de tais fatos', mas que naquele momento ficaria em silêncio. No mesmo dia, Marcelo Odebrecht, delator da Lava Jato, falou ao delegado e respondeu a uma série de perguntas sobre o caso. Durante o depoimento, a PF apresentou ao empreiteiro e-mails extraídos do seu computador e ligados ao financiamento da cinebiografia. As mensagens resgatadas foram trocadas por executivos da empreiteira entre 7 de julho de 2008 e 12 de novembro daquele ano. Naquele dia, Odebrecht escreveu um e-mail com cinco tópicos endereçado a outros funcionários do grupo. Na lista estavam os executivos Alexandrino Alencar e Pedro Novis, que também se tornaram delatores da Lava Jato. "5) O italiano me perguntou sobre como anda nosso apoio ao filme de Lula, comentei nossa opinião (com a qual concorda) e disse que AA tinha acertado a mesma com o seminarista, mas adiantei que se tivermos nos comprometido com algo, seria sem aparecer o nosso nome. Parece que ele vai coordenar/apoiar a captação de recursos", escreveu o empreiteiro.  'Seminarista', de acordo com os investigadores, seria uma referência a Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência (2011/2015/Governo Dilma). À PF, Odebrecht declarou que em 2008 'ainda não era o presidente da Odebrecht S.A., função ocupada por Pedro Novis'. "Pode concluir pelos e-mails que, aparentemente, Gilberto Carvalho tratou do assunto junto a Odebrecht, mas que Palocci coordenaria o assunto junto às demais empresas", afirmou. "Concluiu pelas mensagens que foram feitos pagamentos para produtora ligada ao filme sem que se fizesse necessária a operacionalização mediante a Equipe de Operações Estruturadas, isto é, de forma não oficial", declarou o empresário que ficou preso em Curitiba, base e origem da Lava Jato, durante dois anos e meio.

Segundo o empreiteiro, 'aparentemente os pagamentos não estavam vinculados diretamente ao filme, ou seja, o nome da empresa não apareceria como uma das financiadoras do projeto'. Marcelo Odebrecht se comprometeu a buscar documentos, contratos e notas fiscais que embasaram os pagamentos. Em outro trecho de seu relato, Marcelo Odebrecht cita seu pai, Emílio. "Pelo que o declarante conhece, Emílio Odebrecht nunca condicionou apoio financeiro de interesse de Lula a benefícios específicos de interesses da Odebrecht; que acredita que nunca houve esse tipo de vinculação específica, à exceção de episódios já expostos pelo declarante em seu acordo de colaboração (casos do Refis da crise liberação de linha de crédito para Angola)", declarou. À Polícia Federal, Marcelo Odebrecht afirmou ainda que seu pai 'nunca' lhe contou que 'Lula havia pedido apoio financeiro a algum benefício específico que o Governo Federal havia dado ou ainda daria'. "Acredita que doação para filme fazia parte da agenda mais geral da Odebrecht com PT/Lula, ou, por exemplo, de uma 'conta corrente geral/relacionamento' que Emílio poderia manter com Lula", afirmou.

O filme, com Glória Pires, atualmente protagonista da novela das nove da Globo, O outro lado do Paraíso, custou uma fortuna e foi um absoluto fracasso de bilheteria. A principal financiadora, a Petrobrás, praticamente bancou todos os filmes produzidos no Brasil quando a petroleira tinha a comunicação dirigida pelo sindicalista Santa Cruz, da cúpula do PT. Mas, de fato, a suspeição vem da participação das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. O ex-guerrilheiro e hoje editor César Benjamin publicou artigo de página inteira na Folha de S.Paulo à época da estréia revelando ter ouvido o próprio Lula contar ao marqueteiro da famosa campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA que tentou estuprar um militante do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP) na carceragem do Dops paulista onde foi preso na ditadura. A afirmação não teve, contudo, a repercussão que era de esperar, pois a própria eventual vítima disse que então era evangélico e não podia mentir. Agora vem de novo à tona.

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E o que dizer da notícia de que a nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB), foi condenada a pagar R$ 60 milpor violar a lei trabalhista, em processo movido por um motorista em 2016?

Rapaz, que coisa, hein? O motorista Fernando Fernandes acionou a Justiça do Trabalho alegando ter trabalhado 15 horas por dia para a deputada federal do PTB e filha do presidente nacional do partido sem carteira assinada. A Justiça acatou o pedido,  e a sentença foi confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT1). A informação foi revelada pela Rede Globo. A condenação em primeira instância foi decidida pelo juiz Pedro Figueiredo Waib. Na decisão, o magistrado considerou que o motorista não teve a carteira de trabalho assinada e deveria receber gratificações como férias, aviso prévio e gratificações natalinas. Na ação, o motorista argumentou que trabalhou exclusivamente para Cristiane Brasil e para os filhos dela entre 2012 e 2014, em horário que ia das 6h30 às 22h. Ele declarou que recebia R$ 1 mil em espécie e outros R$ 3 mil em conta bancária.

Ainda de acordo com a Rede Globo, no processo a então deputada se defendeu. Disse que o motorista "exercia tão somente trabalho eventual" e afirmou que o profissional "não era e nem nunca foi seu empregado".

A notícia foi complementada no Jornal Nacional pela informação de que o motorista informou ter recebido proposta da deputada, que não quis falar oficialmente sobre o assunto, para fazerem um acordo em que ela pagaria o que ele pede. Um processo mais recente foi registrado em 2017 por outro motorista: Leonardo Eugêncio de Almeida Moreira. Neste caso, o desfecho foi diferente. A então deputada se comprometeu a pagar R$ 14 mil, em parcelas de R$ 1 mil, além de assinar a carteira de trabalho.

É absolutamente anormal que a ministra do trabalho aja no mínimo com displicência em relação à legislação trabalhista no momento em que 12,6 milhões de trabalhadores brasileiros penam com o desemprego. Como é fora de esquadro esse governo Temer, meu Deus do céu.

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Os governadores de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia e Maranhão divulgaram ontem um manifesto para demonstrar preocupação sobre o agravamento da crise da segurança pública no país, particularmente no sistema penitenciário, "o que exige a tomada de providências urgentes por parte do Governo Federal". Você acha que eles têm razão?

No manifesto, eles fazem cinco propostas para tentar combater o problema, entre eles a criação de um funco nacional de segurança pública e a construção de novos estabelecimentos penais federais. "Os entes federados enfrentam praticamente sozinhos os grandes desafios impostos pelo avanço da criminalidade, sobretudo as ações de grupos organizados para o tráfico de drogas e crimes correlatos. As dificuldades também englobam o sucateamento das estruturas carcerárias, o efetivo das forças de segurança pública insuficiente, rebeliões, mortes e fugas frequentes no sistema prisional, bem como leis inadequadas que incentivam a impunidade", dizem os governadores no documento.

O documento é de um cinismo atroz. No filme da violência nos presídios e nas ruas governadores estaduais e a União dividem a mesma responsabilidade. Não há no Brasil uma política de segurança pública digna deste nome e a culpa é de todos. Tentar transferir a responsabilidade para o governo federal é leviano, irresponsável e só mostra a covardia e a extrema irresponsabilidade de nossos gestores públicos em todos os níveis. Só temos de clamar aos céus: Deus nos acuda. É um bando de malandros.

SONORA Metamorfose ambulante Raul Seixas

 

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