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Estados de espírito

No Brasil de hoje há muito a lastimar e mais ainda a combater

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Por José Neumanne
Atualização:

O chororô não é o mesmo sem Narizinho Foto: Estadão

Quinta-feira 23 de junho de 2016. 16 horas

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Número 1

Juro que não acredito que nada há mais que me possa espantar: algo novo na devassa da Lava Jato, algo velho sendo preservado como lição, algo moderno que possa ser de serventia a todos, algo eterno que não seja de desprezar. A invasão do hospital-modelo para libertar o bandido ferido sob a guarda indigente do Estado; a onça Juma acorrentada, exibida, atiçada e, depois, abatida com um tiro na nuca como um dissidente de Stalin; o prefeito do Rio dizendo que sua prefeitura nada em dinheiro enquanto o País atola na merda; o militante perdido torrando nosso dinheiro numa TV que ele diz pública, mas o público não vê e falando mal do canal que é visto porque diverte o homem comum, que não milita nem torra moeda... Haverá algo ainda que me espante pelo mal? Ou só me resta dormir, buscar um sonho bom e acordar achando que sonhei algo com que nem mais capaz de sonhar eu penso ser?

Número 2:

No Brasil de hoje, há muito a lastimar e mais ainda a combater. Mas há sinais de melhora institucional que não podem passar despercebidos e eu proponho comemorarmos, apesar do pé atrás sempre necessário, de vez que sabemos que as soluções para nossos problemas estruturais dependem mais daqueles que os causam: governantes, parlamentares, promotores, policiais, juízes e burocratas calhordas e larápios. É bom saber que a imagem de acima de qualquer suspeita de Eduardo Campos, Sérgio Guerra e Aécio Neves não passava de fachada de gesso mole, que não resiste a uma investida pra valer de agentes da lei do bem. Melhor ainda é ver desmoronar a farsa de Gleisi Narizinho, a miss da bancada do chororô na Comissão do Impeachment, e seu maridão, Paulo Bernardo - ela agindo às claras no Senado e ele mexendo cordéis e pauzinhos na escuridão da clandestinidade para furtar R$ 0,70 de cada servidor submetido a sua tutela. A exposição da vocação inata para o crime de Marcelo Odebrecht lembra aquelas bonequinhas faceiras de matronas russas (matriochkas) que se reproduzem num quase sem fim, amém - as menores saindo de dentro das maiores. Isso ocorre com tal desfaçatez que é o caso de comemorar o aparecimento da última bonequinha, mas ficando sempre em dúvida se outras sairão, ou não, desta no futuro, dependendo da trabalhosa e profícua investigação da Lava Jato, ameaçada, mas hígida, como provam o artigo de Modesto Carvalhosa publicado no Estadão velho de guerra e a notícia do depoimento de Deltan Dallagnol na Câmara dos Deputados suspeitos. Sim, a corrupção é um serial killer sorrateiro, e só será extinta se e quando a conspiração generalizada de seus réus, futuros réus e improváveis, ocultos, mas existentes, embora desconhecidos ou ignorados, réus for descoberta e desmantelada. A gangue conta com Torquato Jardim e Eliseu Quadrilha (apud ACM), membros do governo de Temer, o Provisório, e o discurso de seu colega da Justiça em nada a ajuda. Estes tempos são malvados e duros, mas são também muito instrutivos, pelo que se vê ultimamente, não são?

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