Dito isso, é preciso, no entanto, olhar o caso de perto e perceber que a coisa não é assim tão simples. Seguindo o modelito chavista, Zelaya estava a caminho de dar ele mesmo um golpe de Estado, ao mudar a Constituição para se permitir a reeleição indefinida. O instrumento para isso seria o referendo popular, velho instrumento chavista para dar verniz democrático a rupturas institucionais. Foi flagrado no meio do caminho pela Suprema Corte e pelo próprio Parlamento hondurenho, que se recusaram a realizar a consulta popular. Diante da insistência de Zelaya, a destituição foi a culminação óbvia desse processo.
Golpes de Estado deveriam fazer parte de um passado distante na América Latina, e causa espécie que ainda ocorram. A ruptura hondurenha deve ser objeto da mais veemente crítica e repúdio. Mas não podemos perder de vista que não há inocentes nessa história.