Nada justifica o que Israel fez, nem do ponto de vista militar nem sob o aspecto político. Ainda que se prove que alguns dos militantes estavam armados; ainda que se argumente que Israel tem direito de defender sua soberania; ainda que se mostre que, para o Hamas, quanto mais militantes morressem, melhor seria para sua estratégia de propaganda: nada disso é suficiente para explicar a desinteligência israelense.
Desde sua vitória espetacular na Guerra dos Seis Dias (1967), Israel embebedou-se de certezas morais que parecem cegá-lo para o fato de que precisa de amigos. Os EUA são os únicos amigos de Israel, mas mesmo os americanos, agora sob Obama, parecem enfastiados com as repetidas tentativas israelenses de fazer o que bem entendem, em franca desconsideração pelo que pensa o resto do mundo e mesmo pelas regras elementares do pragmatismo político. Sua ação contra os barcos pró-palestinos nesta segunda-feira enquadra-se nessa categoria de erro, e toda crítica será interpretada pelos "falcões" israelenses como parte de uma orquestração para minar o país e, por tabela, como manifestação de antissemitismo.
O episódio dos barcos terá efeitos imprevisíveis, mas já dá para estimar o tamanho do estrago para Israel e em sua capacidade de impor sua agenda nas questões do Oriente Médio.