Fará o que muitos -- no Congresso e nas ruas -- criticaram no governo Dilma. Diga-me com quem andas e te direi quem és. Alianças espúrias e sem qualquer caráter programático estiveram entre os fatores que levaram os governos do PT à bancarrota. Têm sido a estaca fincada no peito da democracia brasileira. Temer parece disposto a dar mais uma martelada nela.
Não é pelo efeito prático da indicação. O sistema brasileiro de Ciência e Tecnologia não depende do ministro ou do ministério. Tem vida própria. Para ele, no limite, tanto faz quem comanda a pasta. O que importa é a política geral do governo, que não passa pelo ministro, e a parte orçamentária, que não é modelada pelo ministro. Para cientistas e tecnólogos, nada será a rigor afetado. Mas o pasmo e a insatisfação com a indicação são fortes entre eles. Afinal, trata-se também de uma batalha pela ocupação de espaços.
O erro de Temer é de natureza política e sobretudo simbólica. Sinaliza que o padrão será mais do mesmo. Com algumas inflexões preocupantes. Um evangélico fundamentalista cuidando de ciência e tecnologia é uma contradição nos termos. Nada contra o bispo licenciado, cujo pensamento na matéria pode até surpreender. O MCT continuará a ser tratado como sempre: um expediente para equilibrar forças partidárias e acomodar apoiadores.
Toda Presidência precisa de votos e apoios, sem os quais não governará, mas o momento exige algo mais. Se a ideia for dar um tranco de credibilidade e governança no país, a inovação terá de ser perseguida a todo custo. Olhar para frente, confrontar práticas e procedimentos consagrados, buscar o que diferencia em termos de qualidade e critério, não aquilo que repete o tradicional. Fazer mais, com os melhores e de forma diferente.
As notícias sugerem um panorama sem brilho. Segue o fatiamento do ministério, com distribuição de pastas pelos partidos e pouca clareza na definição do "núcleo duro" que será encarregado de dar eixo ao governo. Há muitos balões de ensaio no ar, para testar resistências e aceitações. Os articuladores tentam tourear os partidos e ganhar pontos na opinião pública. Enfrentam dificuldades em ambas as pontas. Precisam também contar com os imponderáveis da Lava-Jato, que poderão encurtar dramaticamente a trajetória de eventuais ministros ou ministeriáveis.
Não há porque achar que as coisas serão fáceis ou seguirão automaticamente o rumo desejado por cálculos, sonhos e expectativas. Há coisas que não poderão ser evitadas. Uma boa dose de realismo e de pragmatismo deveria ser acrescentada aos humores cívicos e aos volteios dos analistas. O país não necessita de maximalismo e pureza de princípios, mas de bom-senso. A política continuará a rolar com autonomia relativa, muitas vezes na contramão do que deseja a cidadania, os agentes econômicos e os próprios protagonistas políticos. Não entender isso é esmurrar pontas de facas.
Seja como for, se ceder à rotina para construir uma base parlamentar de apoio, Temer cederá o fundamental: mostrará pouca disposição de compor um governo não com o que está à mão, mas com os mais qualificados e com os que são mais independentes do jogo de pressões e chantagens do sistema político. Demonstrará fraqueza, não destemor. Medo, não coragem.
Não será assim que cravará seu nome na História, como diz pretender.