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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

Você escolheria uma mulher?

Escrito em parceria com a Ana Claudia Andreotti, mestranda em Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC.

Por Ana Paula Massonetto
Atualização:

Você confiaria a educação dos seus filhos à uma professora? Contrataria uma advogada para defender uma causa sua? Faria uma cirurgia com uma médica? Confiaria em uma deputada para elaborar uma lei?  Você votaria em uma mulher?

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Em 1776 a.C., o Código de Hamurabi estabeleceu que um homem superior que arrancasse o olho de outro homem superior, perderia seu olho. Mas se matasse a filha de outro homem superior, era sua filha quem seria morta. E se ele matasse uma mulher comum grávida, pagaria algumas pratas para o marido ou pai dela, menos pratas do que pagaria no caso de matar um homem escravo.

Depois de mais de 3.500 anos, em 1776 d.C, a Declaração de Independência dos EUA determinou que todos os homens são iguais. Porém, levou mais 143 anos para que as mulheres estadunidenses conquistassem o direito ao voto, em 1919.

No Brasil, as mulheres só conquistaram o direito ao voto em 1932, com ressalvas: apenas as mulheres casadas, desde que autorizadas pelo marido, e as solteiras e viúvas, desde que comprovassem renda própria. Existiam ressalvas iniciais associadas ao fato de ser ou não servidora pública, para "facilitar o cadastramento".

Não é por acaso que, mesmo compondo cerca de 51% da população e do eleitorado, as mulheres ocupam apenas 9% da Câmara do Deputados e 13,6% do Senado brasileiro e são preteridas nas decisões relevantes, como apontou a Michelle Fernandez aqui no Blog recentemente.

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Legenda: Vista do plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a cerimônia de posse dos 513 deputados federais para um mandato de quatro anos, em 2015. (Fonte: ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO)

 

É por isso que políticas afirmativas em sistemas eleitorais, como reserva de cadeiras no parlamento e cotas para candidaturas de mulheres nos partidos, não são mimimi. Elas buscam corrigir as disparidades que se perpetuam entre homens e mulheres na sociedade e na política, assegurando o princípio democrático da igualdade.

Países que adotam cotas têm conseguido ampliar a participação das mulheres na política. A Costa Rica por exemplo, exige que 50% das candidaturas sejam de cada gênero e a lista fechada dos partidos deve alternar entre homens e mulheres. Na Argentina, a cota para mulheres é de 30%. Atualmente nesses países, a porcentagem de mulheres na Câmara dos Deputados é de 46% e 39% respectivamente, de acordo com dados do Inter-Parliamentary Union.

A legislação eleitoral brasileira vem avançando lentamente e obriga que cada partido assegure às mulheres, no mínimo:

  • 30% de candidaturas em cada partido político;
  • 30% dos recursos do fundo partidário para suas campanhas;
  • 10% do tempo de televisão e rádio à promoção da participação feminina na política;
  • a produção e difusão de propaganda eleitoral destinada à promoção da participação política feminina pelo TSE.

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Mesmo com estes avanços na legislação, os desafios para as mulheres ocuparem a política continuam e são muitos.

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Nas eleições para a Câmara Federal em 2014, as candidatas receberam em média 70% a menos de recurso do que os candidatos homens. A diferença tende a reduzir em 2018, com a ampliação de 5% para 30% dos recursos, determinada pelo STF no início de 2018.

Aguardemos, já que os partidos políticos vêm burlando a legislação eleitoral. Nas eleições municipais de 2016, 16.131 candidatos não tiveram nenhum voto, sendo que de cada dez dos "sem-votos", nove eram mulheres, indícios das candidaturas de "mulheres laranjas".

Não se trata apenas de assegurar a igualdade entre homens e mulheres. A violência contra a mulher, insignificantemente precificada em 1776 a.C., continua nos dias atuais: 13 mulheres morrem por dia vítimas de feminicídio; a cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física; a cada 11 minutos uma mulher é estuprada.

Em termos de trabalho e renda, as mulheres ganham, em média, 73,7% do salário pago aos homens no Brasil e levará cerca de 217 anos para que a desigualdade salarial entre homens e mulheres seja superada no mundo.

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Trata-se, portanto, de ocupar seu lugar de fala e, efetivamente, representar interesses e direitos básicos das mulheres brasileiras.

Para potencializar suas vozes e ações, muitas mulheres maravilhosas estão se unindo em movimentos políticos para pesquisa, formação, produção de propostas e apoio mútuo, a exemplo da rede ONU Mulheres Brasil, do GT Mulheres da Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (RAPS), dentre muitas outras iniciativas que esperamos que surjam em 2018 e nos próximos anos.

 Foto: Estadão

 

 

Uma luta necessária será a de reserva de número mínimo de vagas (cadeiras) para mulheres no Congresso, já aprovada pelo Senado Federal (PEC 98/2015), mas engavetada desde 2016 pela Câmara dos Deputados (PEC 134/2015).

Porém, o avanço da legislação, embora imprescindível, não será suficiente sem você. Para as mulheres ocuparem a política, elas dependem do SEU VOTO!

Pesquise, contate, conheça, participe, dissemine. Nas eleições de 2018, confie e VOTE EM CANDIDATAS MULHERES.

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Queremos e teremos mulheres na política, presentes!

#mulheresnapolítica

#mulherespresentes

#voteemmulheres

 

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