Com base nos votos válidos para a Câmara Federal, e excluídos oito milhões de votos de legenda, nominalmente temos 89 milhões de votos. Considerados exclusivamente os 513 eleitos e ignorando o fato de que suplentes obviamente menos votados ocupam o posto de políticos que se aventuram em outros ambientes, sobretudo no Poder Executivo, teremos 58 milhões de votos nominais ocupando assentos na Câmara - 72% do total que nominalmente se posicionou, o que demonstra uma concentração interessante nos eleitos.
Isso representa dizer que os deputados federais, nominalmente, representam aproximadamente 40% do eleitorado brasileiro. Existe problema nisso? Não. São as regras. E não adianta sonhar com reformas políticas, pois todos os sistemas do mundo excluem nominalmente parte dos desejos dos eleitores. A menor distorção, nesse caso, seria oferecida pela lista fechada e sua tentativa de despersonificar o voto na raiz - há quem diga que essa seria a distorção maior, pois impediria por completo qualquer tipo de voto nominal. Se qualquer um desses dois olhares for verdadeiro, onde caímos com isso? Na valorização dos partidos políticos. E quem, no povo, está disposto a fortalecer a organização que conta com os piores índices de confiança aos olhos dos cidadãos? Poucos, ou quase ninguém. Assim, mais do que o sistema, o problema é a forma como vemos culturalmente a política.
Primeiro porque o senso comum compreende que as pessoas votam em pessoas e, se isso de fato é verdade, poucos entenderão o complexo e coletivo sistema proporcional, tendo dificuldades extremas para cobrar partidos e candidatos que não podem "chamar de seus". De acordo com essa lógica, raros são os deputados que carregariam (e carregam) sozinhos os desejos singulares de seus eleitores em tê-los na Câmara ou nas organizações compostas por esse modelo eleitoral - pouco menos de 40 dos 513 parlamentares federais da Câmara ultrapassaram sozinhos o quociente eleitoral em seus estados. O jogo, assim, é coletivo, é plural. Mas até mesmo a justiça eleitoral e suas interpretações sobre fidelidade partidária e o casuísmo de janelas de mudanças aprovadas no parlamento nacional empurram o sujeito comum pra longe dessa compreensão. Numa sociedade como esta, anda difícil sonhar com um sistema equilibrado, e muito disso não está nas linhas das leis que delineiam as regras, mas principalmente no que fazemos dessas linhas em nossas ações cotidianas guiadas por valores políticos e eleitores tão questionáveis.