Desde 2008, é nas periferias de São Paulo que ocorrem as ações que mais repetimos ao longo de nossa trajetória - 131 cursos desse mesmo projeto financiado pela Fundação Konrad Adenauer e repleto de parceiros. Inicialmente destinada a líderes comunitários que gravitavam em torno da rede dos Centros de Integração da Cidadania - programa da Secretaria da Justiça do Estado - a ação se destinou aos jovens do ensino médio a partir de 2011. Foi acerto expressivo trabalhar com a galera que vive nos extremos paulistanos ou nas cidades que compõem as franjas da região metropolitana.
Nessas iniciativas costumamos passar questionários de entrada e saída para avaliar impactos, percepções, sentimentos e noções. Uma das perguntas trata de entender a visão dos jovens sobre o que faz uma Câmara Municipal. Ofertamos algumas opções e damos liberdade para que marquem quantas acham que são, efetivamente, as funções do parlamento local. Os números carregam sentimentos diferentes: do otimismo ao lamentável impacto de nossa cultura política. O gráfico nos ajuda a entender o fenômeno com base nos resultados de entrada e saída do curso nos anos de 2016 e 2017.
Em linhas gerais é possível dizer que os estudantes chegam ao curso sabendo que a função do parlamento local é "fazer as leis da cidade". Em 2016 isso parecia mais claro, e talvez o ano eleitoral tenha inspirado maiores explicações e debates dentro das escolas públicas onde esses jovens estudam. Em 2017 os volumes de percepção são menores e o aporte de nosso curso é quase inexistente, mas não podemos negar que a galera tem noção do que é a "casa das leis", ou seja, mais de dois terços percebem o papel institucional formal de uma Câmara. Onde ganhamos muito com as ações é na percepção sobre a função fiscalizadora do parlamento. Na entrada as respostas anuais variam entre 45% e 50%, mas na saída ficam entre 60% e 70%, um ganho bastante significativo.
Negativamente pesa, principalmente, a quantidade de jovens que afirma ser o poder legislativo um local para que os eleitores conquistem "favores dos vereadores". Os ensinamentos do curso arrefecem esse sentimento, mas ainda assim o fenômeno preocupa. Numa cidade da Grande São Paulo, que não cabe mencionar o nome, nós realizamos uma atividade junto à Escola do Parlamento local - importante canal de disseminação de conteúdos políticos fundamentais. Os profissionais da instituição atraíram para o curso os alunos do terceiro ano do ensino médio jovens de uma escola pública vizinha à Câmara. Por lá a percepção acerca dos favores beirou os 50% no início da atividade. O servidor parceiro da atividade nos explicou o resultado: "a Câmara é vizinha da escola e os jovens vêm muito aqui pedir para que os vereadores tirem xerox de caderno de aula, arrumem os currículos dos estudantes para o mercado de trabalho e façam outras gentilezas com a estrutura de gabinetes que fogem demais da verdadeira atividade parlamentar". Como conter isso?
Pra terminar com uma boa notícia: cerca de 10% dos estudantes entram nos cursos admitindo que não sabem o que faz ou o que significa uma Câmara Municipal, e esse percentual cai pela metade depois de três encontros rápidos de três horas cada. A educação política vai fazendo seu papel, a cultura política o dela. Milagre não podemos fazer, mas certamente contribuímos com o adensamento do sentimento de democracia e o arrefecimento de males causados por quem dela se aproveita para disseminar o que há de mais difícil. Oxalá isso seja verdade!
1.Ficou curioso com o curso: conheça o livro que acabamos de lançar para contribuir com a formação e professores dispostos a aplicarem nossas atividades. Acesse o LINK e divirta-se.