Em outubro de 2014, a presidente da república foi eleita por 54.501.118 de pessoas, precisamente 51,64% dos votos válidos. Entretanto, o seu partido, o PT, elegeu apenas 70 deputados, ou seja, exatos 13,64% das cadeiras da Câmara dos Deputados. No Senado, o resultado foi levemente melhor com 14,81% dos assentos, com 12 senadores. Essa disparidade entre a preferência do eleitor para o Executivo e para o Legislativo é de responsabilidade nossa. Em artigo publicado em 2011, as professoras e pesquisadoras Denise Paiva (UFG) e Gabriela Tarouco (UFPE) mostraram que o eleitor nem sempre vota de acordo com suas preferências. Ora, se ao ir à urna o cidadão é capaz de não votar no partido que prefere, fica difícil esperar que ele ponha no Legislativo o mesmo partido que pôs no Executivo.
O "show de horrores", nas palavras do professor Vítor Sandes (UFPI), talvez nos ensine a dar mais valor às eleições legislativas. Durante muitas décadas, o foco do eleitor tem sido o Executivo. Entretanto, com essa demonstração de um protagonismo congressual fisiológico e incoerente, que na verdade sempre existiu, mas nunca ocupou o horário nobre por mais de 6 horas, é chegada a hora de instruirmos melhor o eleitor mais desavisado, ressaltando que a eleição legislativa é tão importante quando a eleição do Executivo.
A incoerência foi tanta que o prefeito de Montes Claros foi preso pela Polícia Federal em menos de 24 horas do pronunciamento de sua esposa e deputada federal, quando o citou como exemplo a ser seguido de decência na política durante o proferimento de seu voto a favor do impeachment. Os que acreditam que o impeachment é a solução para devolver a ética e a decência ao Legislativo mereciam mais. Mas enquanto o palhaço agradar o público, o circo não sai da cidade. Vergonhosamente lamentável.