E se adensa com a questão da janela para a troca de partido político, que no caso dos deputados deveria ter ocorrido - já de forma muito duvidosa - apenas em 2018, mas como um test-drive de infidelidade, os parlamentares federais abriram uma auto-exceção em um dos eternos capítulos das imensuráveis reformas políticas do Brasil para que em 2016 pudessem saltar de legenda. Assim: na atual legislatura duas aberturas de espaço permitiram que dezenas de trocas ocorressem.
Mas não se anime em imaginar que tudo está acabado: ainda existe a possibilidade de troca com base no nascimento de um novo partido. Não é considerado infiel o parlamentar que muda de partido se o seu destino for um grupo que está nascendo. A decisão está repleta de idas e vindas, tem legislação nova, mas tem também interferência absoluta do Poder Judiciário. Não me peça pra imaginar como um ministro da mais alta corte eleitoral do país explicaria a lógica da fidelidade em casa para seu companheiro ou companheira. Sou muito ortodoxo pra entender certas coisas. Um último exemplo: um parlamentar eleito pela lógica proporcional pode alegar perseguição ou ser expulso de seu partido, e assim estará livre para escolher qualquer outra legenda.
Com base em todos esses movimentos, que somam centenas de trocas nas bancadas partidárias na Câmara dos Deputados, a despeito dos nomes envolvidos, fica a percepção de que um eleitor que entenda do sistema eleitoral (difícil) e se afeiçoe à lógica das bancadas partidárias como princípio elementar de representação (algo mais difícil ainda) terá imensas dificuldades de comparar o que seu estado, por exemplo, ELEGEU em 2014 para a Câmara dos Deputados e o quadro atual dos 513 deputados federais em 2018. Isso sem tocar em NOMES, ou seja: isso pouco importa, em tese, se o sistema fosse mesmo compreendido em sua complexidade partidário-coletiva.
As razões pra essa avalanche de alterações, que políticos renomados já definiram como "suruba", são as mais distintas. Por exemplo: chama a atenção que o (P)MDB tenha conseguido eleger oito deputados federais em 2014 no Rio de Janeiro e hoje tenha apenas dois - um dos originais está enjaulado. E que o DEM tenha feito UM parlamentar no estado - que hoje preside a Câmara federal - e hoje tenha nove representantes fluminenses. Quem está de fato incomodado com isso? No Amazonas e no Amapá a mudança atingiu 50% da lógica partidária, no Mato Grosso e no Tocantins superou esse valor. A contrapartida a essa desorganização existe. O Acre tem apenas uma mudança (a despeito dos nomes). Uma cadeira do PRB deixou de existir, e agora há uma do DEM - a despeito de ser a mesma pessoa ou não.
A pergunta central do texto é: até quando trataremos os partidos de qualquer modo, sem cobrar por esses movimentos e sem nos importarmos com o que tudo isso de fato pode significar? Fortalecer os partidos aos olhos dos cidadãos, e lembrar que o monopólio das candidaturas e o uso de recursos públicos valiosos são ativos que deveriam resultar em maior atenção a essas organizações é o mínimo que deveríamos cobrar de nós mesmos. A bronca aqui não cabe apenas às legendas, tampouco às regras que seus agentes criam.