O PSOL, por exemplo, protagonizou em âmbito nacional uma brutal incoerência. O diretório do Rio de Janeiro permitiu que um militar, um dos líderes da "greve" dos bombeiros em 2011, se candidatasse a deputado federal. A estratégia eleitoral era a de aproveitar a notoriedade do bombeiro e revertê-la em votos, o que deu certo. Ele foi eleito com quase 50 mil votos (cerca de 0,65% dos votos válidos fluminenses). Para os dirigentes do partido, a militância no movimento grevista teria mais destaque do que o fato de o candidato ser religioso e militar (vale lembrar que boa parte do PSOL veio do PT, partido cujos principais expoentes lutaram contra o regime militar).
Na Câmara dos Deputados, o parlamentar passou a agir de acordo com os seus princípios e a sua consciência, o que é ruim para o sistema partidário, mas uma prática adotada por quase todos os legisladores. O militar psolista, por exemplo, propôs uma PEC para retirar a palavra "povo" do trecho do preâmbulo constitucional que estabelece que todo o poder emana do povo e substituí-la por Deus. Logo o alarme de incêndio do partido acendeu, gerando um movimento para expulsar o militar-religioso do seio do socialismo e da liberdade. Na executiva nacional do partido, ainda houve um membro que votou contra a expulsão, consumada por 53 votos. Porém, a executiva decidiu não pleitear o mandato, embora o parlamentar tenha infringido as diretrizes do partido.
O PSOL de Pernambuco, também por meio do cálculo da estratégia eleitoral, coligou-se em 2014 ao PMN, partido que nacionalmente estava coligado ao PSDB para a eleição presidencial. Durante a propaganda televisiva da chapa proporcional, o PMN inclusive usou o símbolo do PSDB em função da aliança nacional. O fato causou mal estar na militância. Porém, ao final, o PSOL conseguiu eleger seu principal líder, o primeiro deputado estadual do partido em Pernambuco que, nestas eleições, disputa a prefeitura do Recife e cuja estratégia é a de fortalecer a chapa proporcional e eleger pelo menos um (a) vereador (a).
O caso que talvez seja o mais incoerente é o do PC do B. Fiel aliado do PT e seu principal defensor histórico, os comunistas montaram alianças com partidos que votaram maciçamente a favor do impeachment, que eles chamam de golpe, para não correr o risco de perder espaço no poder. Ora, é perfeitamente inteligível que o PC do B busque um projeto próprio, independente do PT, e que forme alianças com outros partidos, mas fica difícil defender a tese do golpe se candidatando, justamente, de braços dados com aqueles vinculados aos partidos golpistas.
Estas incoerências, além das próprias inadequações dos nomes dos partidos, confundem o eleitor e minam a credibilidade dos discursos. Em breve, com as eleições municipais, o eleitor terá dificuldade em se identificar com os partidos quando colocadas essas questões mais institucionalizadas. O componente local irá se sobrepor à coerência discursiva e à própria atuação dos partidos no Congresso Nacional. Condorcet é que estava certo: quando há atores com preferências intransitivas (intransigentes), a saída é mudar de preferência para não impedir a decisão. Mas não precisa ser de forma tão incoerente assim.