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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

As eleições legislativas pós-Lava Jato

As últimas pesquisas de intenção de voto apontam para um cenário incerto de quem governará o país a partir de 2019. Os principais partidos ainda estudam a melhor estratégia capaz de se apresentar para uma parcela mais "exigente" do eleitorado, que intensificará com a Lava Jato uma crise de representação em direção ao sistema político. Para se ter uma ideia, a condenação do ex-presidente Lula, independente do mérito, reforça a tendência de instabilidade política dentro de um universo de um pouco mais que um terço dos eleitores que deseja votar no petista nas próximas eleições.

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Por Cláudio André de Souza
Atualização:

Se as investigações da Lava Jato, por um lado, impactam no cenário presidencial, por outro, não é diferente em relação às eleições para o legislativo (Câmara e Senado). Diversas lideranças regionais e partidos políticos estão às voltas com a montagem das pré-candidaturas diante dos abalos gerados pelas investigações, abrindo, assim, uma espécie de "vácuo representativo", afetando bases eleitorais e como será a redefinição dos espaços políticos das lideranças partidárias.

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O caso do Rio Janeiro é emblemático, já que o MDB foi devastado pela Lava Jato, afetando bases eleitorais consistentes e significativas, como as de Eduardo Cunha e da família Picciani. A prisão do ex-governador emedebista Sérgio Cabral e as suas 21 denúncias oferecidas pelo MPF até aqui retratam bem o clima de devastação sofrido pelo partido no estado do Rio de Janeiro. Embora o ex-prefeito Eduardo Paes desponte como nome forte para o governo, é arriscada a manutenção da sua candidatura dentro do MDB diante de tamanho desgaste político do partido.

O redesenho das bases eleitorais para as eleições legislativas cariocas pode apontar para a tendência de definhamento a depender de qual nome será escolhido para o governo do estado, já que as alianças nas eleições proporcionais e para o Senado estão ligadas à "competividade sistêmica" para a conquista do governo estadual enquanto um padrão de competição política na democracia brasileira.

O caso baiano também é relevante, mas em proporção menor em termos de projeção eleitoral. A prisão recente do ex-ministro Geddel Vieira Lima e as investigações em curso envolvendo o seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima apontam para um grau de incerteza quanto à definição de quem sucederá ambos na liderança partidária no estado em um momento no qual os emedebistas se preparavam para lançar Geddel na chapa com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), dentro de um cálculo que consolidasse o seu irmão na liderança do MDB em 2019. A depender da justiça e dos fatos, caso Lúcio esteja impedido de se candidatar abre-se um espólio de no mínimo 222.164 votos (3.34% de votos válidos), que ele obteve nas eleições de 2014. O lugar do MDB na possível chapa liderada pelo prefeito de Salvador se tornou remota diante dos escândalos que podem enfraquecer a chapa de oposição ao PT na Bahia.

Os dois casos representam muito bem algo ainda pouco discutido pela imprensa e por pesquisas acadêmicas: a Lava Jato afetará o sistema político no âmbito do legislativo em vários estados, especialmente, no âmbito da montagem das listas de candidatos do partido, que dependem do perfil e composição política das direções partidárias.

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Por fim, temos como hipótese de leitura dos fatos políticos que os prefeitos protagonizarão a operação da "máquina de votos" pelo país afora com o fim do financiamento empresarial de campanha. Partimos da premissa de que com a diminuição de recursos, as lideranças políticas locais serão ainda mais fundamentais no arranjo eleitoral de deputados federais e governadores, já que estão mais próximos dos eleitores e contam com outros tipos de recursos e barganhas para a captação direta do voto.

Daqui pra frente, a imprensa e as pesquisas acadêmicas podem ter um prato cheio caso queiram investigar o número de prefeitos no país que pretendem se lançar rumo a um passo maior na carreira para deputado federal. A carreira política municipal dos médios municípios é diferente das capitais e regiões metropolitanas, cuja a eleição para a prefeitura descende da passagem pelos corredores da Câmara dos Deputados.

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