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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

A participação das mulheres na política no Brasil: o direito de votar, de sermos representadas, e de participar da tomada de decisão

9 cientistas políticas escrevem sobre o cenário da mulher na política do Brasil

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Por Mônica Sodré
Atualização:

 

O Direito de Votar

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Embora comumente se diga que as mulheres brasileiras ganharam o direito ao voto no código eleitoral de 1932, é importante destacar que, enquanto o voto era obrigatório para os homens alfabetizados (excetuado os mendigos, analfabetos e praças), o código previa que:

    Art. 121. Os homens maiores de sessenta anos e as mulheres em qualquer idade podem isentar-se de qualquer obrigação ou serviço de natureza eleitoral.

A exceção prevista no artigo, na prática, definia que as mulheres votariam se assim o quisesse seus pais,no caso das mulheres solteiras, ou seus maridos, no caso das casadas. A constituição de 1946 definiu que o voto era obrigatório, exceto para as mulheres "que não exerciam atividades remuneradas", ou seja, a maioria das mulheres casadas continuavam submissa à vontade de seus maridos. Foi apenas no código eleitoral de 1965 que os direitos e obrigações eleitorais foram igualados entre homens e mulheres.

Hoje nos cabe fazer valer esse direito, ir votar e fazer nossas escolhas conscientes e livres de qualquer amarra patriarcal.

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Lara Mesquita

 

A mulher brasileira na política na nossa história

A luta das mulheres brasileiras pelo espaço na política data de 1880, com a demanda da dentista Isabel de Mattos Dillon na evocação da Lei Saraiva, requerendo seu direito ao voto. 1824 viu Santos promulgar o direito das mulheres ao voto e derrubá-lo em menos de um ano. Em 1905, três mulheres votaram em Minas Gerais. O voto só se torna direito nacional em 1932. Mas, como explicou a Lara, só em 1965 que os direitos e obrigações eleitorais foram igualados entre homens e mulheres.

A primeira prefeita brasileira foi eleita em 1928 em Lages (RN). 1934 vê a primeira deputada federal mulher, Carlota de Queirós, e o Senado só veria suas primeiras parlamentares mulheres em 1990. Em 1994, Roseana Sarney é a primeira mulher escolhida pelo voto popular para chefiar um estado, o Maranhão. Em 2011, a primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tomou posse. E, no Parlamento, foram eleitas as primeiras vice-presidentas da Câmara dos Deputado e do Senado.

São ao menos 140 anos de história de luta pela participação política das mulheres no Brasil e ainda temos muito caminho a percorrer para a igualdade de gênero.

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Andressa Pellanda

 

Ocupar para sermos representadas

Nós, mulheres, somos mais da metade dos eleitores no Brasil, porém menos de 10% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por parlamentares do sexo feminino. Exatas 45 deputadas têm a tarefa de representar-nos. Se quisermos ter pautas relacionadas aos direitos das mulheres apresentadas e apreciadas no Legislativo Federal devemos ocupar este espaço político.

Michelle Fernandez

 

Fazer valer as regras que já existem e garantir mais

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Os mecanismos institucionais para incentivar a participação das mulheres na política - a Lei de Cotas e a obrigatoriedade de aplicar recursos partidários na promoção da participação feminina - não são integralmente cumpridos pelos partidos políticos. Enquanto não houver fiscalização e penalização (inclusive nas urnas!) dos partidos políticos que descumprem essas regras, o Brasil permanecerá na lanterna no ranking de representação feminina da América Latina.

Marina Merlo

 

Lugar de Fala

#DeUmaVozPorTodas

Metade do Brasil é mulher, essa metade tem menores salários do que homens, lidera apenas 20% dos negócios, ocupa apenas 1 em cada 7 cadeiras de vereadores e apenas cerca de 10% do Congresso brasileiro, enquanto isso, 1/3 destas mulheres sofreram algum tipo de violência em 2017.

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A autorepresentação das mulheres na política é fundamental, tanto para que atuem como protagonistas de suas próprias lutas, quanto para, de fato, equilibrar os espaços e as relações de poder.

Ana Paula Massonetto

 

A mulher no legislativo paulista

Em 2009, foi instituída uma nova regra pelo TSE como forma de diminuir a disparidade de gênero na política: partidos políticos precisam apresentar pelo menos 30% de candidaturas femininas em suas listas. E o que isso significou na prática? Pouca coisa. Desde que entrou em vigor,mal conseguimos a atingir essa cota mínima; 10% e 12,5% são as médias de mulheres eleitas para a Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais no estado de São Paulo, respectivamente, segundo o TSE. As explicações para a sub representação variam desde o baixo financiamento de campanha, o pouco espaço nas instâncias partidárias até a resistência para a eleição de uma mulher para cargos eletivos. Isso tudo aponta para a persistência da dificuldade do sucesso eleitoral das candidaturas femininas. É necessária a implementação de reformas institucionais que garantam a efetividade da representação das mulheres, a luta continua. Seguimos na busca por ocupar esses espaços que nos faltam, que são nosso direito, e, por fim, deixar de vez os bastidores da vida política.

Marcela Tanaka

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Pequena anedota arquitetônica

O Senado Federal do Brasil iniciou seu funcionamento em 1826. O primeiro banheiro feminino adjacente ao Plenário do Senado Federal do Brasil foi inaugurado em 2016.

Graziella Guiotti Testa

 

Lugar de mulher é onde ela quiser!

Se a representação das mulheres no Legislativo federal brasileiro já é entristecedora, no Executivo o cenário de mulheres presentes na política é no mínimo vergonhoso. Desde a proclamação da República o Brasil já teve 35 presidentes e somente 1 deles foi uma mulher: Dilma Rousseff.Também foi no governo dela que as mulheres ganharam maior visibilidade ao assumirem a chefia de 8 ministérios em seu primeiro mandato e depois 9 ao ser reeleita. Atrás dela fica o Presidente Lula que contou com 6 mulheres em seus ministérios no segundo mandato, frente a 2 mulheres no primeiro mandato. No governo de FHC foram somente 2 mulheres no primeiro mandato e outras 3 mulheres após sua reeleição. Nos governos dos Presidentes Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco somente duas mulheres também ganharam cargos de chefia de ministérios. Estamos avançando? No atual governo Temer só há 1 ministra mulher. Volto a repetir:lugar de mulher também é no Executivo Federal!

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Joyce Luz

 

Aprender com as experiências positivas das mulheres na política

Uma forma de aprender sobre as causas da subrepresentação das mulheres na política é focar nos casos de sucesso. Nas mulheres que, sem contar com a herança de capital político masculino, foram capazes de ingressar no mundo da política e alcançar posições de liderança. Neste processo, elas desafiam o sistema, exploram suas contradições, forçam seus limites e apontam caminhos para um sistema mais inclusivo.

Marta Mendes da Rocha

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