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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

Usando o vento a favor

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Por Julia Duailibi
Atualização:

Texto publicado no Estadão Noite A Copa do Mundo no Brasil ameaçou se transformar em munição eleitoral contra o PT. As manifestações populares contra o Mundial, as promessas não cumpridas pelo Executivo, as obras que não foram entregues, os estádios que custaram bilhões, os aeroportos com seus puxadinhos. Tudo alimentava um mau humor no brasileiro contra o evento e, mais especificamente, contra o governo. Mas o clima mudou. Às vésperas dos partidos homologarem suas candidaturas à Presidência da República, o torcedor brasileiro parece ter mergulhado de cabeça na Copa. O ambiente é outro. A Seleção passou a ser ovacionada por onde passa. As equipes de outros países foram bem recebidas pelos brasileiros (basta ver a invasão no treinamento da seleção argentina!). As manifestações, por enquanto, foram pontuais. Os estádios, mal ou bem, estão aí, com vários problemas, mas estão, assim como os aeroportos (não estou defendendo a maneira como foram entregues, estou dizendo que foram entregues, e que o governo usará isso a seu favor). Por enquanto, nenhum incidente grave que possa macular a imagem do Brasil anfitrião - ou do governo de plantão. O PT já percebeu essa mudança no ambiente e começou a capitalizar esse movimento. Na TV, Dilma atacou os "pessimistas" e afirmou que a Copa, apesar dos que diziam que não iria acontecer, está aí. Mas foram os xingamentos contra a presidente no Itaquerão, na abertura do Mundial, que passaram a servir de maior arma eleitoral do PT, ao humanizarem e vitimizarem a presidente. Lula, que pode ter muitos defeitos, mas tem bom faro político, já tratou de trabalhar o ocorrido a favor da sua candidata. Os ataques à Copa e os xingamentos a Dilma foram o combustível que ele precisava para reeditar o discurso do "nós contra eles", que a oposição tanto teme e quer neutralizar. As vaias e os xingamentos caíram como uma luva para os petistas. Tanto que o adversário Aécio Neves (PSDB) logo percebeu a armadilha e foi público criticar o comportamento contra a presidente - na contramão, só Eduardo Campos (PSB), que não sacou o bem que fazia à adversária ao dizer que "Dilma colheu o que plantou". Se não houver nenhum desastre, todo esse caldo será munição importante para o PT. Na convenção do partido, que homologará o nome de Dilma, neste sábado, em Brasília, os petistas continuarão a surfar na onda de bom humor e dizer que quem foi contra a Copa foram "eles", a "elite" e a "imprensa". Se o Brasil ganhar a Copa, então, o discurso será ainda mais turbinado com otimismo e ufanismo. Tudo bem que, tradicionalmente, os resultados do Brasil nas Copas não influenciaram os rumos das eleições. Em 1998, o País perdeu a Copa, mas o candidato governista (FHC) ganhou a eleição. Em 2002, o Brasil ganhou, mas o candidato governista (Serra) perdeu. Em 2006, o Brasil perdeu, mas o candidato governista ganhou (Lula). Em 2010, também. O Brasil perdeu, e Dilma levou. Mas, nesta Copa, o que está em jogo é a capacidade de o Brasil ser bom anfitrião e que nenhum acontecimento fuja do controle do governo. O PT sabe disso. E é isso que contará para moldar o discurso eleitoral do partido. Independentemente, de uma vitória do Brasil na Copa. Que, se vier, será lucro.  

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