Após resultado do Datafolha, que aponta inversão no quadro eleitoral com Dilma Rousseff (PT) liderando numericamente a corrida, o comitê de Aécio Neves (PSDB) tem agora uma missão difícil: paralisar o que parece ser uma onda pró Dilma bem na reta final da campanha. A tarefa é complicada, principalmente num cenário em que o TSE criou nova jurisprudência e proibiu as campanhas publicitárias no rádio e na TV com ataques.
O discurso crítico contra Dilma e contra corrupção continuará. O problema é ser mais do mesmo, já que o eleitor tomou conhecimento de desvios, como na Petrobras, mas parece não estar disposto a mudar seu voto por causa do escândalo.
O PSDB identificou também que não pode se descuidar das propostas. Nas pesquisas qualitativas recentes feitas pela campanha, o eleitor quer saber o que Aécio tem para mostrar. A avaliação no comitê é a de que muitos dos votos que estavam menos cristalizados na classe média e que migraram para Dilma são de eleitores que identificaram na presidente maior capacidade de fazer as coisas (segundo o Datafolha, 44% acham que Dilma é mais preparada para cuidar da educação, contra 40% de Aécio; na saúde, 40% apontam a petista como a mais preparada, contra 41% que dizem ser o tucano).
A questão da ausência de propostas foi um dos efeitos colaterais do violento debate de quinta-feira, no SBT - o outro foi a pecha de truculento usada pelo PT contra o candidato do PSDB nos dias seguintes ao encontro e que, segundo monitoramento da campanha tucana, colou em Aécio (Datafolha também mostrou queda de três pontos porcentuais do tucano entre o eleitorado feminino).
A campanha do PSDB tentou calibrar o discurso propositivo no debate da Record, no domingo. Foram formados grupos de 24 leitores indecisos, em São Paulo, Belo Horizonte e Rio. Depois do debate, 14 deles se diziam pró Aécio, 3 com Dilma e sete indecisos. Muitos dos eleitores destacaram as propostas, entre as quais Creche para Todos e o discurso da segurança (Aécio também é apontado por 41% eleitores como o mais preparado para combater a violência contra 36% dos que dizem ser Dilma).
Do lado petista, o resultado da pesquisa é visto ainda com cautela. Nos últimos dias, os trackings do partido mostravam a petista numericamente na frente do tucano. O PT avalia que foi eficiente ao aumentar a rejeição de Aécio e trazer votos menos cristalizados da classe média, muitos deles que estavam com Marina Silva (PSB) e que no começo do segundo turno flertaram com o tucano.
Mas os petistas acham que não podem descuidar. Portanto, as críticas ao candidato do PSDB também continuarão, no limite do que for possível no novo entendimento do TSE. A ideia é manter a rejeição do tucano alta, colocando nele o rótulo de candidato dos ricos (56% dos eleitores acham que ele defenderá os mais ricos) e explorando a crise da água, que ajuda a causar uma erosão na candidatura do PSDB no principal bastião eleitoral do partido, o Sudeste, onde Dilma também avançou.
Para fazer frente às investidas do PT, a principal aposta para Aécio agora é o debate de sexta-feira, na Rede Globo. O formato do encontro, avalia-se na campanha, pode ser positivo para o tucano, porque o prevê conversas diretas com eleitores e caminhadas pelo palco. Aécio teria boa desenvoltura e bom gestual, qualidades que seriam importantes no confronto contra a adversária. A expectativa é que o debate da Globo tenha a maior audiência entre os encontros realizados até agora. A questão é saber se a dois dias da eleição um bom desempenho será suficiente para reverter o que pode ser um momento positivo para Dilma na reta final.