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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

PT usa FHC como telhado de vidro de Aécio

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tornou-se a arma dos petistas nos ataques ao pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves. Nos últimos dias, numa ação combinada, integrantes do governo e parlamentares passaram a relacionar com maior frequência Aécio a medidas impopulares da gestão de FHC (1995-2002). Trata-se de uma velha estratégia do PT.

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Por Julia Duailibi
Atualização:

"Vocês sabem quem criou o fator previdenciário? Foi Fernando Henrique Cardoso", disse ontem Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, durante comemoração do 1º de Maio. "Agora eles (tucanos) querem voltar com o senador Aécio Neves. Vêm com promessas para vocês para um governo que eles não terão." Antes, em conversa com jornalistas, o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, seguiu a mesma linha. "Ele (Aécio) disse que não teria medo de adotar medidas impopulares. Eu acho que o governante, de fato, não pode temer medidas difíceis. Mas, quando eu lembro do governo Fernando Henrique (PSDB) e que ele (Aécio) foi líder do PSDB, e que foi presidente da Câmara, quando ocorreram grandes malefícios para os trabalhadores, eu tenho certeza de que, quando ele fala de medidas impopulares, ele sabe do que ele está falando."

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A pré-campanha de Dilma Rousseff usa como principal arma contra os adversários o discurso da volta ao passado, do retrocesso e da perda de conquistas. Quer colar em Aécio o segundo mandato de FHC, que ainda é mal avaliado pelos eleitores nas pesquisas qualitativas. Fernando Henrique deixou o Palácio do Planalto com a popularidade baixa. De acordo com o Datafolha, em dezembro de 2002, 36% dos brasileiros consideravam o seu desempenho ruim ou péssimo contra 26% que o consideravam ótimo ou bom.

Na campanha presidencial de 2006, o PT usou as privatizações da gestão FHC para atacar o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. O tucano caiu na armadilha e ficou na defensiva. Passou a usar um casaquinho com logo dos Correios e da Petrobras e um boné do Banco do Brasil. Depois, percebeu que mordera a isca e se arrependeu. Em 2010, pesquisas contratadas pelos marqueteiros de José Serra mostravam rejeição ao governo FHC em setores da população que o tucano precisava conquistar. Toda a estratégia de comunicação do candidato foi criada tentando vender Serra como o mais capaz de intensificar as mudanças no País produzidas não pelo PSDB, mas por Lula. FHC foi escondido e não apareceu nos programas eleitorais no rádio e na TV. Com a derrota, o PSDB cobrou a fatura de Serra. A decisão de esconder o ex-presidente e sua gestão foi criticada pelo partido, que passou a fazer uma série de homenagens a Fernando Henrique.

Desde que Aécio se tornou pré-candidato, os tucanos, de fato, têm defendido o governo FHC, destacando as conquistas positivas, como controle da inflação e as privatizações. Aécio, inclusive, aproximou-se de ex-integrantes da era tucana, como Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central. No palanque eletrônico, porém, a situação é diferente. No rádio e na TV, a aparição do ex-presidente foi pequena até agora. FHC estrelou menos da metade das inserções de 30 segundos do PSDB. No programa de dez minutos do partido, que foi ao ar no último dia 17, não houve nenhuma manifestação em relação a seus feitos como presidente - e o nome do ex-presidente é citado uma única vez, de maneira bem breve, quando Aécio fala de um telefonema que deu a FHC na época em que o mineiro era presidente da Câmara dos Deputados.

Para um ex-integrante da equipe de marketing de Serra, o time de Aécio explora a imagem e a gestão do ex-presidente só com os eleitores que avaliam bem FHC e vende para os formadores de opinião a ideia de que o senador está resgatando de maneira consistente o legado do tucano. Para o grande público, porém, Fernando Henrique será usado em doses homeopáticas.

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