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Para manter Levy no cargo, Dilma finge não entender declaração de ministro

Se Dilma puxasse a orelha do ministro, estaria admitindo que entendeu a mensagem e aí teria que demiti-lo, o que seria péssimo para o ajuste fiscal e para o País nesta altura do campeonato

Por Julia Duailibi
Atualização:

Em palestra para ex-alunos da Universidade de Chicago, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chamou a presidente Dilma Rousseff de burra. Não disse isso com todas as letras, mas foi exatamente esse o sentido da sua declaração ao afirmar que ela nem sempre faz as coisas da maneira mais "fácil" e "efetiva".

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Por mais que Levy tenha usado eufemismos, de maneira elegante e delicada, a declaração dele é óbvia: a presidente é bem intencionada, mas, coitada, não acerta porque não entende qual caminho mais fácil e busca sempre o mais difícil. O complemento do seu raciocínio é: falta competência intelectual para a missão.

Levy esquece que é ministro do governo petista. Em encontro com seus pares - economistas, empresários e representantes do mercado financeiro (ele trabalhava no Bradesco antes de assumir a Fazenda) -, faz questão de marcar uma posição do tipo: sou um de vocês, não um deles. E aí fala o que não deve.

Em almoço com empresários ontem, citou de maneira elogiosa Pedro Malan, ex-ministro de FHC e alvo de críticas dos petistas, conforme revelou a jornalista Vera Magalhães, na coluna Painel, da Folha hoje. Em fevereiro, em outro episódio infeliz, chamou de "brincadeira" a política de desoneração do governo federal aplicada pela equipe econômica anterior. Levy pode até estar certo no que diz, mas como integrante da equipe tem que vestir a camisa.

A intenção do ministro parece ser boa. Com as declarações, tentaria "forçar a amizade" com esses setores da sociedade, e assim ganhar a confiança, num momento em que precisa aprovar o ajuste fiscal. Se for isso, é ele quem quer fazer a coisa certa, mas não da maneira mais fácil. Declarações desse tipo vazam, são turbinadas e servem de munição para os inimigos. 

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A Dilma coube apenas respaldar a explicação de Levy e dizer que ele foi mal interpretado. Se puxasse a orelha do ministro, estaria admitindo que entendeu a mensagem. E aí teria que demiti-lo, o que seria péssimo para o ajuste fiscal e para o País nesta altura do campeonato.

Nesse episódio, Dilma fez a coisa mais "efetiva", como diria Levy. 

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