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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

'Não identifico resistência a Aécio em São Paulo', diz Guerra

Por Julia Duailibi
Atualização:

Principal articulador da candidatura do senador Aécio Neves a presidente da República pelo PSDB em 2014, o deputado Sérgio Guerra (PE), à direita na foto, minimiza o pouco entusiasmo com que líderes paulistas, como o governador Geraldo Alckmin, tratam publicamente a candidatura do mineiro. "Ele (Alckmin) considera Aécio um excelente candidato a presidente", afirmou o tucano, para quem há apoio dos "paulistas" ao presidenciável.

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Guerra também afirma que o partido errou ao não defender o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e diz não acreditar que o ex-governador José Serra sairá do PSDB. O deputado deixa hoje o cargo de presidente do PSDB, que passará a ser ocupado por Aécio, num primeiro movimento para preparar sua candidatura ao Palácio do Planalto. Guerra deverá ocupar a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de estudos e pesquisas ligado ao partido.

Leia abaixo a entrevista, que teve trechos publicados na edição impressa do Estado.

Aécio será eleito presidente do PSDB. Esse é o primeiro passo para a sua candidatura presidencial. O que muda no partido com um presidente candidato?Para o partido, a eleição dele é um estímulo a sua reorganização e a sua mobilização. Um líder que é seguramente um grande nome brasileiro, que passa a desenvolver a experiência e liderança no PSDB e na sociedade, por todo País. O PSDB vai torná-lo mais conhecido do povo, da população, e do próprio partido.

Mas definir um candidato a presidente com antecipação não fragiliza o partido e desgasta o candidato? O PSDB deve identificar ao longo deste ano o seu candidato a presidente. E, me parece cada dia cada vez mais evidente, o senador Aécio Neves deverá ser esse candidato. Essa convicção só ajuda o partido e só ajuda o candidato. Isso não tem nada a ver com campanha. Neste instante os nomes citados para presidente da República já são conhecidos. Não estamos, elegendo Aécio presidente do PSDB, alternando uma situação. Os candidatos que o Brasil já conhece são Aécio, Dilma, Marina e outros.

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O próprio Aécio resistia a se tornar presidente do PSDB por ponderar que havia um risco de desgaste, inclusive com potenciais aliados. Aécio não gosta de assumir responsabilidades sem que esteja preparado sob todos os aspectos. Ele agora tem clareza sobre o trabalho que irá fazer na presidência do partido.

Alckmin diz que é cedo para definir candidaturas e que há outros nomes no PSDB. De certa forma, coloca um freio na consolidação do nome de Aécio como candidato a presidente da República pelo partido.  Se o PSDB tem outros nomes além de Aécio, melhor para o partido. Melhor ainda se desenvolvermos no partido essa discussão.

Serra é um desses candidatos? Na minha opinião pessoal, neste instante, acho que não. Não consigo ver o Serra novamente candidato a presidente da República.

Por quê? Por uma razão objetiva: assim como o nome dele era óbvio há dois anos , o nome mais provável para a próxima eleição é Aécio. Isso não quer dizer que o Serra não possa vir a ser presidente da República. Eu votei nele uma vez e votaria de novo.

Aécio atualmente trabalha para atrair o apoio do PSDB paulista. Há resistência em São Paulo a sua candidatura? Essa eleição provavelmente não verá candidatos paulistas a presidente da República. Essa é uma eleição que será disputada sem que um candidato paulista relevante se coloque. Assim como Aécio tem necessidades de andar pelo Brasil, vencer o desconhecimento e estabelecer uma visão cada vez mais múltipla do País, mais ainda terá que fazer ele em relação a São Paulo, em razão da importância política econômica e social.

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Mas há resistência a ele? Não conheço. Não identifico resistência a Aécio em São Paulo nem em nenhum lugar. Aliás, essa é uma das características positivas de sua candidatura.

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Alckmin não dá declarações contundentes de apoio a Aécio e até tentou desmarcar evento em São Paulo em março, no qual o senador foi aclamado presidenciável do partido.Caso o PSDB não vença a eleição em 2014, em 2018 haverá uma disputa entre Alckmin e Aécio pela indicação para disputar a Presidência. O governador Geraldo Alckmin defende uma estratégia de campanha. Mas ele considera Aécio um excelente candidato a presidente.

O partido não consegue construir a unidade em razão de projetos pessoais das suas lideranças? Com toda franqueza, não vejo isso no PSDB. E acho que outros partidos têm mais esse problema que nós. Há divergências importantes no PSB. Marina, que foi uma candidata importante, saiu do partido dela (o PV). Os conflitos no PT são mais do que famosos. E, às vezes, resolvidos de forma sangrenta. O PSDB tem muita democracia e terá cada vez mais.

O partido nunca fez uma prévia para escolher o candidato a presidente. O PSDB escolherá o candidato a presidente com a participação de todos os seus membros. Os membros do PSDB na sua imensa maioria defenderam a candidatura de Serra para presidente, da mesma forma que percebo tendência para a defesa da candidatura de Aécio. Não é questão de dois ou três iluminados. É a questão do partido inteiro.

No passado recente, a candidatura de Alckmin a presidente foi definida num jantar com quatro caciques... Não será assim. Já não é assim.

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Para tucanos, Serra blefa com a história de sair do partido para conseguir mais espaço na direção do PSDB? Acho que o Serra é alguém profundamente preocupado com o PSDB. Tem profundo prestígio nacional e a opinião dele deve ser ouvida pelo partido o tempo todo. Não acho que o Serra pense em sair do partido.

Por que ele não mergulha no projeto do Aécio, se é o que o partido quer, segundo o sr.? O projeto de Aécio está sendo desenvolvido, não está pronto. Para que ele fique pronto, tenha começo, ele precisa do Serra. Isso é na hora do Serra falar. Acho que Serra dará apoio. Acredito nisso.

FHC disse que partido precisava se aproximar do povo.O PSDB precisa se identificar com população brasileira, com as novas formas sociais que se apresentam, e precisa estar mais próximo do eleitorado mais pobre, de menor renda. Precisa enfrentar o PT nas áreas mais populares. Isso implica em um discurso justo que dê continuidade ao que fizemos no passado. Precisamos ter propostas para melhorar as condições sociais do povo brasileiro, como fazemos nos governos estaduais.

Mas a população avalia mal os governos do ex-presidente FHC. A gestão do FHC tem avaliação crescente na população. É evidente que muito que fizemos, especialmente no campo social, foi apropriado pelos governos que nos sucederam. Nós não defendemos nosso legado como deveríamos, essa é uma velha conversa.

Foi um erro? Foi um grande erro não termos defendido por muito tempo o legado do período de FHC. O PSDB só é o PSDB fazendo como deve a defesa do seu legado.

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E por que não o fez? Porque havia taxas de aprovação que eram negativas e conjunturais.

Isso mudou? Acho que, com toda clareza, o PSDB se orgulha hoje do seu legado e assumiu isso com todas as letras.

Aécio será um candidato melhor que Alckmin, em 2006, e Serra, em 2002 e 2010? Alckmin foi um candidato excepcional. Serra fez um grande trabalho. Mas acho que um candidato que tenha sido governador de um Estado como Minas e que tenha a capacidade de liderança que Aécio tem é ajustado para a campanha que se vai fazer de agora para frente.

Aécio terá dificuldade de fazer alianças e conseguir um tempo de TV competitivo para enfrentar a máquina do governo? Isso tem aspectos positivos e negativos. O aspecto mais positivo é que candidaturas múltiplas entendem um cenário plebiscitário. Os partidos terão dificuldades de fazer alianças, porque serão disputados por pelo menos outros quatro candidatos. Mas o PT terá seguramente um grande problema tendo que enfrentar, por exemplo, Aécio em Minas e no Sudeste e Eduardo Campos em Pernambuco e no Nordeste. Múltiplas candidaturas nos garantem desde já o segundo turno. Mais candidatos, menos alianças. Mas mais possibilidade de segundo turno.

O DEM apoiará o PSDB? É muito cedo para dizer, falar de alianças sólidas. O Democratas é um aliado tradicional do PSDB e é provável que continue.

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A candidatura de Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, ajuda o PSDB a forçar o 2º turno? Acho que é boa para o País porque, entre outras coisas, é um candidato que tem ideias e projetos, ajuda a democracia e garante uma discussão mais aberta. Nos limpa do discurso de sempre, que nós somos da elite e eles são do povo. Porque a população já não aceita mais isso. População quer várias alternativas, sabe que a vida é mais complexa, o mundo é mais complicado e que há várias propostas para o Brasil. Não é uma questão de ser contra ou a favor, mas de ter um projeto.

O PSDB negociou uma aliança entre Campos e Aécio já para o 1º turno? Não porque o PSDB terá antes que desenvolver um trabalho interno de consolidação da candidatura de Aécio e somente no segundo momento é que ele vai cuidar de alianças de uma maneira especial. E, neste caso, o PSB também tem o mesmo desafio que nós, o de desenvolver o candidato e colocá-lo para discutir alianças. Esse é o momento de desenvolver o candidato. Não faz sentido um outro partido, que tem também a ideia de desenvolver um outro projeto presidencial, de cogitar as alianças.

Eduardo Campos vai buscar o eleitorado governista? Eduardo fará críticas ao governo atual em muitos aspectos e desenvolverá o seu discurso a partir daí. Ele fala de continuar, por isso o discurso dele é de fazer mais.

Lembra o do Serra, candidato da oposição em 2010, que dizia "O Brasil pode mais". Inegavelmente lembra o nosso discurso...

O que o sr. acha de uma chapa puro sangue do PSDB em 2014? Não deve ser o objetivo. Para Aécio, é indispensável que tenha o apoio real e integral do PSDB. Isso não quer dizer que ele não possa e não deva fazer articulação com uma chapa combinada com outros partidos. Mas a prioridade de um candidato do nosso partido é começar a consolidar o PSDB, que por si só já tem uma grande força.

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Qual balanço o sr. faz da sua gestão? O partido de oposição no Brasil é um projeto extremamente difícil. O governo e o PT jogam muito duro. E, muitas vezes, de forma pouco republicana. Resistimos à pressão e somos um partido que governa mais da metade do Brasil. Acho que isso aconteceu porque o partido não teve donos, porque disputou eleições de forma convincente, com Geraldo e Serra, e porque é crescentemente democrático. Ajudei nisso. Acho que o tempo em que fui presidente foi sempre para favorecer a ideia de mudar e renovar o PSDB.

 

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