Isolado e pressionado pelo PT e rifado pelo governo federal, o prefeito paulistano, Fernando Haddad, foi levado a recuar da decisão de manter o reajuste de R$ 020 na tarifa de ônibus. Nos últimos dias, Haddad vinha sendo pressionado pelo PT municipal e estadual a rever o ajuste e evitar mais desgaste político. O petista também viu frustrada, na noite de anteontem, a expectativa de um gesto de boa vontade da presidente Dilma Rousseff, que trouxesse alívio para as contas da Prefeitura e que permitisse o corte no aumento. A presidente conversou com o prefeito, defendeu o recuo, mas não sinalizou nada de concreto.
Haddad ficou abalado com as cenas de depredação e a manifestação em frente da sua casa na véspera. Contudo, ainda estava disposto a resistir. Ontem pela manhã, viu o presidente da Câmara Municipal, o também petista José Américo, aliar-se ao comunista Orlando Silva para cobrar o recuo, durante reunião dos seus principais conselheiros políticos. Manteve, porém, sua posição. Chegou a afirmar que esperava por "novas desonerações" do governo federal e teve o apoio da maioria do conselho, que disse para ele "não ceder a chantagens".
A resistência durou até o final da manhã, quando chegou a declarar que a redução seria "uma decisão de caráter populista". Mas o cenário continuava ruim, e o petista cada vez mais isolado. Foi quando o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), lhe telefonou. "Eu não vou aguentar", disse o colega ao informar que anunciaria a redução da passagem de ônibus na capital fluminense. À tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu sua contribuição e abandonou o prefeito ao afirmar que o governo "não tinha condições" de anunciar novas desonerações para o setor de transporte.
Haddad jogou a toalha e telefonou para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pedindo uma reunião. Foi para o Palácio dos Bandeirantes acompanhado de dois secretários. Lá, o tucano lhe disse que o cenário de protestos iria continuar se não houvesse um recuo no valor da tarifa. Mas a situação do governo do Estado era mais fácil. O recuo custa a Alckmin R$ 210 milhões por ano. Para Haddad, o valor do subsídio das passagem de ônibus duplicará, chegando a R$ 2,7 bilhões em 2016.
Depois de alguns dias de trocas de acusações, principalmente em razão da ação da Polícia Militar na manifestação de quinta-feira passada, a mais violenta de todas, tucano e petista afinaram o discurso. E, sem ajuda do governo federal, optaram por colher os benefícios, principalmente eleitorais, de um recuo que parecia inevitável, mas que foi estratégico.