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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

Ex-governador critica Alckmin pela falta de água em SP

Apesar das declarações, Cláudio Lembo diz que tucano será o próximo candidato a presidente pelo PSDB

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Por Julia Duailibi
Atualização:

O ex-governador e integrante da Executiva do PSD, Cláudio Lembo, diz que se fosse o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) "não dormiria um único dia sequer" em razão da crise de abastecimento de água, que continua a ser uma questão no Estado, principalmente para a seca de 2015, apesar da chuva dos últimos dias.

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Lembo avalia que a administração estadual escondeu a gravidade do problema durante a eleição e diz agora que o governo "deveria ser multado pela escassez". Ironiza o argumento de que São Paulo passa pela maior seca dos últimos 84 anos e afirma que houve falta de obras. "A única saída é chamar Moisés, já que São Pedro não ajudou."

Apesar de dizer que o governador paulista é "pequeno burguês", Lembo diz que Gerado Alckmin será o próximo candidato a presidente pelo PSDB. "Ele é o governador de São Paulo, e eu já disse há pouco que ele é equilibrado, sensato. E o Aécio ainda é o menino de Minas, que não foi bem em Minas. Quem não é eleito na sua terra não vai ter grande sucesso."

Aliado de Kassab, que será o novo ministro das Cidades, Lembo defende o governo Dilma.

Leia abaixo a entrevista.

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O sr. foi governador e vice de Alckmin. Qual a razão da eleição dele em primeiro turno, apesar das dificuldades pelas quais passa o Estado e os 20 anos de poder do PSDB em São Paulo?

A figura equilibrada, que é típica de São Paulo. Uma figura equilibrada, sem arestas, que não agride ninguém. E conservador.

Mas o eleitor paulista já elegeu políticos com perfis bem diferentes do de Alckmin, como Maluf e Covas.

Sim, mas todos têm um traço de direita. Por mais absurda que pareça a afirmação quanto ao Covas, ele também era de direita e conservador. Tinha arroubos, mas no fundo tinha uma linha conservadora. O Maluf é um caso a parte.

Então o sr. acha que contou mais a personalidade do governador do que sua gestão?

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Acima de tudo é a personalidade dele que se encaixa muito no perfil paulista pequeno burguês, da elite branca. Mais do que isso. Ele é um pequeno burguês. Pode até não ser da elite branca.

O que quer dizer com pequeno burguês?

Uma pessoa sensata, equilibrada, que está sempre bem posto. Fala com cuidado. Procura as palavras. Uma pessoa mediana.

E a gestão dele?

Mediana.

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Como vê a crise de abastecimento de água?

Isso é grave, acho muito preocupante. Porque vai afligir todos. Espero que chova. Se as orações valerem, espero que chova muito em São Paulo. Isso seria uma tragédia. Não só quanto à falta de água em si, mas uma tragédia da saúde publica. A higiene das próprias casas. Seria uma tragédia. Melhor não pensar nisso. Melhor agir e não pensar. Eu, se fosse governador, não dormiria nenhum dia.

Mas a culpa é dele?

Claro. Deveriam ter feito mais obras. A Sabesp é uma empresa que alterou os seus objetivos. Ela não poderia ser uma empresa que obtivesse lucro com a água. A água é um bem essencial que deve ser muito preservado. E a Sabesp gerava a idéia de consumo para poder ter lucro. O que foi um grande erro. São Paulo teria que estar economizando água desde os anos 2000. Deveria ter criado a consciência do consumo de acordo com as necessidades e não supérfluo. É uma cidade que gasta muita água. Aprenderam a gastar água porque a Sabesp sempre projetou a idéia de que havia água à vontade e de forma muito volumosa. E não é verdade.

Quanto mais o paulista consome, mais ela gera receita.

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Exatamente, e isso é um erro da maldita privatização de tudo. Quando se colocou as ações da Sabesp na Bolsa de Nova York, se praticou um grande erro. É uma empresa pública, deveria ser uma empresa pública pura, sem intuito de lucro. Deveria reinvestir tudo na água e na preservação da água. Agora, deu nisso.

O que o sr. acha que Alckmin deveria ter feito?

Primeiro, deveria ter trazido água do São Lourenço, que é uma reserva muito rica. E hoje fazer uma adutora é muito fácil. Esse eu acho o ponto mais grave do problema da Sabesp. E, depois, deveria ter consumido mais dos reservatórios aqui na região do planalto. Nós estamos com o Cantareira, que é do Regime Militar. Não tem cabimento. No Regime Militar, São Paulo tinha 4 milhões de habitantes.

O Cantareira foi subestimado na época na construção, nos anos 60.

Exatamente. A situação da água é muito grave. Eu confesso que, se fosse governador, não dormiria um único dia sequer, angustiado com o problema. Vai levar a uma catástrofe de saúde publica patética. Portanto, eu espero e quero que chova.  Torço para o melhor.

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O governo paulista escondeu a situação durante durante a eleição?

Claro que escondeu. Hoje a gente percebe que não houve o racionamento desde a hora que deveria. Claro que escondeu. É só ouvir a Dilma (Pena, presidente da Sabesp). Ela mostrou isso. E eu acho que os meios de comunicação preservaram muito esse quase sigilo sobre a água.

Os jornais trouxeram o tempo todo manchetes e notícias sobre a falta de água.

Ah, mas muito leve. Ninguém fez uma análise profunda. A The Economist fez uma análise melhor que a dos paulistas.

O governo diz que o bônus e a multa...

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(Interrompendo) A multa deveria ser ao governo e não ao particular. O particular deveria ser educado para não gastar. O governo deveria ser multado pela escassez. Por não ter feito em tempo oportuno novas obras e porque na época da tragédia não pensou em fazer uma publicidade do que estava acontecendo para que todos economizassem. A publicidade foi muito leve, culpou só a falta d`água. E não é verdade. Houve a falta de obra também. As duas coisas. Pobrezinho de São Pedro, ele não anda bem... Ele perdeu a chave da água.

Eu acho muito grave porque as obras futuras vão custar muito. E os investimentos do Estado em outras áreas não vão ser fáceis com essas obras. Na saúde, na educação, nas rodovias... A infraestrutura em geral. Vai ser complexo. Vai ser muito difícil.

Qual o prognóstico para 2015?

Se iniciarem as obras, lá por 2018 vão estar prontas. Então, vamos passar por um período realmente muito difícil. A única saída é chamar Moisés, já que São Pedro não ajudou.

No governo, fala-se também que a seca afetará o setor elétrico e o abastecimento de energia.

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Esse hábito de falar mal da Dilma é coisa de paulista. O Brasil tem um sistema elétrico interligado e notável. É um dos poucos do mundo interligados. Só dois Estados não são: Amazonas e Acre. Segundo, é caro, mas há as termoelétricas. Doutora Dilma criou as termoelétricas por todo o País.

Como vê a disputa interna no PSDB, ainda discreta, para a vaga de candidato a presidente em 2018? Será de Alckmin ou de Aécio?

Será Gerado Alckmin. Porque ele é o governador de São Paulo, e eu já disse há pouco que ele é equilibrado, sensato. E o Aécio ainda é o menino de Minas, que não foi bem em Minas. Quem não é eleito na sua terra não vai ter grande sucesso. Eu acho que o Geraldo tem mais possibilidade no PSDB que o Aécio. Ainda porque o Aécio na posição de líder da oposição sempre foi mal. A gente percebe que ele não esta à vontade. Ele é um homem de conciliação. Não fica bem como líder da oposição. Não é para ele. Ele é mais leve do que isso.

Por que em São Paulo o sentimento anti-petista foi grande, refletindo a votação expressiva de Aécio Neves (PSDB) no Estado?

Realmente, é um fenômeno muito interessante. Eu confesso que, por mais que eu examine, não consigo perceber com clareza. Mas imagino que seja a origem do PT. O PT nasceu em São Paulo, cresceu em São Paulo, teve muitas vitórias em São Paulo e frustrou São Paulo. Então, tem um ódio contra o PT. Um sentimento de frustração.

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Como vê as manifestações de impeachment de Dilma e os pedidos para a volta do Regime Militar?

Eu lamento que os alguns poucos paulistas tenham baixado tanto na vida. Primeiro, eu acho que não há por que querer a volta do Regime Militar. Eu acho muito ruim essa idéia de impeachment, ela (Dilma) particularmente não está envolvida (nos escândalos de corrupção na Petrobras). Vamos permitir que ela governe e que o País saia dessa situação complexa que está neste momento. Eu acho duas situações absolutamente absurdas.

Acho que em virtude de todos os acontecimentos da campanha e, particularmente, dos ocorridos a partir do Paraná (Operação Lava Jato), ou seja, da Justiça Federal, o Brasil vai ser passado a limpo, e o governo Dilma vai ser muito bom e tranqüilo, porque vai haver um equilíbrio de pensamento em razão da própria execução penal.

Mas o governo enfrentará problemas de governabilidade em razão dos desdobramentos da Lava Jato.

De maneira alguma. Acho que o País está bastante institucionalizado para se ter consciência de que uma coisa é o Poder Executivo outra é o Judiciário. O Judiciário é feito exatamente para penalizar ou para aplicar a lei. Portanto, é ótimo porque está se recuperando as instituições no Brasil.Acho excelente, os maus políticos serão afastados.Há um outro aspecto que é passar a limpo as empreiteiras no Brasil. As empreiteiras no Brasil, desde o Império, são um problema muito sério.

Advogados de defesa de empreiteiros disseram que o Brasil para se o cerco continuar.

Não para nada. Isso é uma visão tucana. Se fosse parar, já tinha parado há muito tempo. Mais do que isso. Se existem essas empreiteiras, existem outras que são as sub-empreiteiras. Essas podem continuar as obras. Não há problema nenhum. Ainda porque a Petrobras, no caso específico, tem quadros muito qualificados. Vai ocorrer uma limpeza nas empreiteiras. Elas vão passar a agir de maneira mais idônea.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, articulando outro partido. Não é oportunismo político?

Não. Na política, há muitas mudanças de posição. E há emigração. É da natureza humana emigrar. É possível que surja um novo partido, sim. Não há nada definido ainda. Mas isso é mais por vontade dos parlamentares, do que do Gilberto Kassab. Há uma vontade do Parlamento de emigrações, o que é normal. Acho que isso vai se consolidando até a reforma política. Antes da reforma política você tem que fazer acertos dentro dos partidos. Depois, temos que fazer a reforma política e certamente diminuir o número de partidos existentes no Brasil.

O sr. também vai mudar de partido?

Eu não. Nunca emigrei. Os partidos acabam, e eu fico onde estou.

O PSD vai acabar?

Não acredito. Acho que ele tem condições de crescer e se tornar um partido de centro muito poderoso no Brasil. Está faltando no Brasil o bom senso do centro democrático. Nós temos meninos brincando de centro-esquerda, que é a social democracia, e nós temos outros brincando de esquerda pura. Está precisando do centro, que é a grande democracia brasileira.

 

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