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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

Barganhas eleitorais

Texto publicado ontem no Estadão Noite

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Por Julia Duailibi
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff (PT) entregou ontem ao PTB a vice-presidência corporativa da Caixa Econômica Federal. Ficará com a cadeira o primeiro-tesoureiro do partido, Luiz Rondon Teixeira de Magalhães Filho. Com isso, a pré-candidata do PT à Presidência da República sela o apoio do PTB à sua reeleição e garante na propaganda eleitoral no rádio e na TV os 38 segundos a que o partido tem direito em cada um dos dois blocos de 25 minutos. Entrou com um ativo público, mas levou um benefício privado.

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O comércio de minutos eleitorais corre solto às vésperas de junho, mês das convenções partidárias. Num País em que a maior parte do eleitorado se informa a respeito dos candidatos às vésperas da eleição, a propaganda política no rádio e na TV a partir de agosto torna-se importante arma de convencimento do eleitor - vale lembrar que o horário eleitoral não é gratuito e custa cerca de R$ 800 milhões por ano ao contribuinte. Cientes da vantagem competitiva de um longo palanque eletrônico, os donos dos partidos negociam no balcão das coligações eleitorais o tempo de propaganda de suas legendas - tempo que é concedido aos partidos pela Justiça com base no tamanho das bancadas eleitas para a Câmara dos Deputados.

Os pré-candidatos entram em campo, geralmente representados pelos presidentes de suas agremiações, para fazer as ofertas. Quando as conversas não envolvem dinheiro, passam pela concessão dos cargos nos governos de quem busca a reeleição. É o caso do PTB, com Dilma, que segundo estimativas do PT deve abocanhar mais de dez minutos em cada um dos blocos da propaganda eleitoral, se fechar a aliança com os onze partidos que estão na zona de influência do Palácio do Planalto, entre os quais o PMDB e o recém rebelado PR.

Mas essa negociação não é uma especialidade de Dilma nem do PT. O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, pré-candidato à reeleição, diz publicamente que é cedo para falar sobre a disputa de outubro. Mas nos bastidores seus assessores negociam a cessão de cargos no governo em troca dos segundos que possam garantir ao tucano maior competitividade no rádio e na televisão. O PSC, do deputado Marco Feliciano, ficou com uma vaga na Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. O PRB, de Celso Russomanno, passou a comandar a pasta do Desenvolvimento Social. PPS, PV e DEM também mantiveram espaço no governo após a promessa de apoio eleitoral a Alckmin.

O poder de barganha de quem concorre à reeleição é maior que o de quem está na oposição, afinal entra na negociação todo o potencial que a máquina governamental proporciona naquele momento. A negociação não é a prazo, mas a vista. Como resultado, as coligações firmadas pelos candidatos à reeleição tendem a ser enormes, colocando sob o mesmo guarda-chuva um punhado de partidos.

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Por enquanto, o presidenciável tucano Aécio Neves foi o único que criticou essa negociação entre os partidos envolvendo os minutos eleitorais. Ele mesmo, porém, já se beneficiou dessa lógica. Em 2006, quando foi candidato à reeleição ao governo de Minas, conquistou o apoio de nada menos que dez partidos, a maior parte deles com participação no governo.

 

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