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Estratégias eleitorais, marketing político e voto

Baixaria de Aécio e Dilma legitima comportamento do eleitor

A votação do dia 26  se tornou o pano de fundo para as pessoas exporem seus preconceitos, seus ódios e suas frustrações. A política passou a ser apenas um meio para essa espécie de sessão descarrego, como o Corinthians, o Palmeiras, o Flamengo ou o Fluminense, numa briga de torcidas organizadas

Por Julia Duailibi
Atualização:

Os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), ao protagonizarem situações patéticas como o debate de ontem, no SBT/UOL, colocam mais lenha na fogueira entre petistas e tucanos, Brasil afora. A baixaria que os dois promoveram legitima a pancadaria que já corre solta na rede há meses e que, agora, parece chegar de maneira perigosa às ruas.

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É bom que as pessoas estejam envolvidas com política, num País em que o eleitor geralmente não lembra o nome do deputado federal em quem votou três dias depois do pleito. Mas no tipo de debate que está sendo promovido (entre os candidatos ou seus eleitores) ninguém quer ouvir ou discutir propostas para economia, política externa, segurança. A bordo de suas convicções, as pessoas querem é que os outros as engulam ou sumam das suas timelines.

Aparentemente, não se trata mais de eleição. A votação do dia 26se tornou o pano de fundo para as pessoas exporem seus preconceitos, seus ódios e suas frustrações. A política passou a ser apenas um meio para essa espécie de sessão descarrego, como o Corinthians, o Palmeiras, o Flamengo ou o Fluminense, numa briga de torcidas organizadas. As redes sociais aumentam a tensão. Todo mundo quer fazer valer sua opinião no seu palquinho virtual.

É bom lembrar, em meio a essa algazarra, que Dilma e Aécio não são candidatos tão díspares quanto seus eleitores mais exaltados gostariam de crer. Tampouco o País vai acabar se um ou outro ganhar. Há diferenças, sim, principalmente na área econômica, mas independentemente do resultado das eleições, para frustração do lado perdedor, não vai haver aniquilação dos programas sociais nem o Brasil se transformará na Venezuela. Nem Dilma é tão de esquerda; nem Aécio tão de direita.

Apesar disso, há uma insistência entre candidatos, com reflexo nos eleitores, em polarizar o debate, como se as disparidades fossem abissais e como se o País rumasse inexoravelmente para o caos com a vitória de um ou de outro. Amigos, familiares, colegas de trabalho se resumem agora a "esquerdistas" ou "coxinhas" que devem sumir do mapa. Esse tipo de adjetivação de maneira alguma reflete a dimensão das escolhas do eleitor médio ou as variáveis complexas inerentes às candidaturas.

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Verdade que o azedume entre azuis e vermelhos não é dessa eleição. Começou a surgir mais forte a partir de 2006, no pós mensalão, quando a estrela do PT trincou. Na época, durante uma discussão, uma eleitora mordeu e arrancou um pedaço do dedo de uma publicitária que exibia propaganda do partido adversário.

Em 2010, uma universitária defendeu na internet o afogamento de nordestinos, que deram vitória a Dilma. Foi condenada pela Justiça, mas parece que não serviu de exemplo.

Os comentários repugnantes voltaram a assombrar as redes impunemente no primeiro turno de 2014. O que podemos esperar desta última semana, antes do segundo turno? Que alguém mate um eleitor por discordar de seu voto?

Parece exagerado, mas nunca se deve menosprezar a insensatez. Um cadeirante diz ter sido agredido na rua por eleitores de Aécio por usar uma estrela do PT na camiseta. Gregório Duvivier, um dos fundadores do Porta dos Fundos, foi ameaçado num restaurante no Leblon por ter dito que votará em Dilma. Num vídeo na internet, uma mulher que se diz professora e do PCB gritou, cuspiu, chamou para a briga e xingou uma universitária de "loirinha de merda", "vagabunda" e "puta" porque a menina fazia propaganda do Aécio.

Aécio e Dilma acusam um ao outro de ter começado a baixaria no debate de ontem, como duas crianças dando explicações para a mãe sobre quem começou a briga. A postura das duas campanhas diante do histórico empate técnico mostra que não há espaço para armistício. A querela vai continuar, dando chancela para que as pessoas abram as portas e deixem sair os monstros que trazem dentro de si.

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O que está em jogo é a Presidência. Tanto faz se o eleitor se engalfinhar ou se matar pelas ruas do País. O que vale é ganhar. Na eleição de 2014, com esse comportamento ensandecido, o povo está mostrando que, numa democracia representativa, no bom e, principalmente, no mau sentido, seus políticos de fato o representam.

 

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