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O que está em jogo na política

A farsa de Dilma sobre a corrupção

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Por José Álvaro Moisés
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff está se permitindo protagonizar uma farsa que não é nem um pouco abonadora para a sua imagem. Surpreendida pela avalanche de mal feitos revelados pela Operação Lava Jato na Petrobras, a maior empresa estatal do país, ou seja, a revelação de fatos verificados justamente ao tempo em que ela era Ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho da empresa, Chefe da Casa Civil e presidente da República, Dilma tenta passar agora a imagem de que é ela quem está mandando apurar a corrupção na empresa.

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Nada mais enganador e mentiroso do que isso. Quem quer que acompanhe e preste alguma atenção ao modo como funciona a política no país sabe que isso é um engodo. Dilma não mandou fazer nada, ao contrário, foi surpreendida pela ação autônoma e independente da Policia Federal, do Ministério Público e da Justiça federal - que são instituições de Estado, e não deste ou daquele governo. Tivesse ela mandado apurar algo, teria anunciado isso meses atrás, ainda durante a campanha eleitoral; não fez isso porque sequer sabia dos desdobramentos que teriam as investigações e auditorias dos organismos de integridade.

Isso não quer dizer, entretanto, que ela não tivesse conhecimento dos fatos. Dadas as funções que desempenhou recentemente, seria muito difícil que não tivesse conhecimento do que se passava na maior empresa sob sua responsabilidade direta ou indireta. É importante se ter clareza de que a sua tentativa de enganar os brasileiros agora não é mais do que uma forma de tentar sair do foco das instituições, da opinião pública e dos líderes da oposição que podem, se quiserem, levantar a tese de crime de responsabilidade dela. Sim, é disso que se trata, nos termos das leis e da Constituição brasileira.

Para os quem têm dúvidas sobre isso basta refletir sobre uma coisa importante. A Lei Anticorrupção, votada pelo Congresso em 2013, está há cerca de um ano para ser regulamentada por ela. O ministro da Corregedoria Geral da União afirmou meses atrás de que a regulamentação estava pronta dependendo apenas da assinatura de Dilma. Se ela, como diz agora, estivesse de fato mandando apurar e coibir a corrupção teria feito isso meses atrás, em realidade, teria feito no início do ano, e teria usado isso durante sua campanha eleitoral. Não o fez porque efetivamente não estava interessada na regulamentação, nem estava motivada pela gravidade das questões envolvidas no tema. Não há como justificar isso a alguém que quer se apresentar como um arauto no combate da corrupção.

Podemos, sendo racionais e objetivos, nos perguntar por que Dilma Rousseff não assinou isso antes e por que, se é verdade que ela está interessada em coibir a corrupção - inclusive no seu próprio partido e naqueles que fazem parte da sua base aliada - não informou a Nação antes sobre os graves mal feitos que atingiram a maior empresa estatal do país, mal feitos que, como se sabe agora, envolvem volumes de recursos que poderiam multiplicar por dez as políticas sociais do país, e cujos efeitos podem afetar profundamente a imagem do país no exterior e, pior, a própria retomada da economia brasileira.

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Que as coisas ainda se passem assim no Brasil é, lamentavelmente, apenas um indicador da baixa intensidade da qualidade da nossa democracia. Ainda temos muito o que avançar neste país para a plena consolidação da democracia.

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