Queda de Marina não altera dificuldades do governo

A campanha da candidata Dilma Rousseff segue aparentemente imune às sucessivas demonstrações de erros de gestão, maquiagem de números e reafirmação da corrupção que têm marcado o governo no último ano do mandato em que busca a reeleição.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Por imune, leia-se a permanência da candidata no patamar de 36% das intenções de voto, com oscilações de alta dentro da margem de erro e retorno frequente ao que parece ser o seu piso nessa disputa, reafirmado mais uma vez pela pesquisa da CNT/MDA divulgada há pouco, em que a candidata governista oscila dos 38% anteriores para 36%.

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Os erros do governo e os escândalos de corrupção fizeram a presidente descer a esse patamar depois de experimentar o conforto de uma aprovação que esteve na casa dos 70%, antes das manifestações de junho de 2013.

O agravamento da economia, a maquiagem das contas, e os desconcertantes erros do IBGE, entre outros, não parecem afetar a candidatura ao ponto de produzir queda ainda maior do que a já registrada no último período de 12 meses.

A se confirmar essa tendência, conclui-se que a força eleitoral de Dilma registrada nas pesquisas é de um contingente que restou fiel ao PT após a descapitalização política do partido, que teve no mensalão seu fator maior de desgaste.

A reta final da campanha, nesse contexto, só autoriza mudanças em relação às candidaturas de oposição, representadas por Aécio Neves e Marina Silva, empenhados numa disputa pela vaga no segundo turno, como mostra a pesquisa desta manhã da CNT/DMA, em que a candidata do PSB cai de 30 para 27%.

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É um cenário previsível desde que o instituto da reeleição estabelece como eixo da disputa o candidato governista, em torno do qual se tem o ponto de partida do debate eleitoral. É com base nos resultados do governo que se instaura o debate, com a oposição mesclando crítica e propostas de mudanças.

Mesmo agora, a oposição precisa manter a ofensiva contra o governo para referenciar seu discurso no cenário em que o eleitor começa sua reflexão pela conveniência de estender ou interromper o atual mandato presidencial.

A pesquisa da CNT indica que a artilharia pesada do governo, combinada com a crítica de Aécio Neves, atingiram Marina Silva, mas não deve ameaçar sua liderança na oposição a Dilma.

O dado relativo a Aécio Neves, que se mantém nos 17%, confirma a dificuldade da candidatura do PSDB que, como já foi dito em outras avaliações neste espaço, precisará conquistar 10 milhões de votos, segmentados por todas as regiões do país, para reverter a vantagem de sua oponente oposicionista.

O governo continua sem razões para comemorar, porque o segundo turno apresenta uma perspectiva de vitória improvável de Dilma. A presidente precisará alcançar mais de 50% dos votos, o que seu percentual no primeiro turno desautoriza historicamente.

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A queda de 3 pontos porcentuais de Marina é um alerta para a necessidade da candidata rever a precipitação com que rejeitou de forma hostil apoios como o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin que, por força da aliança regional com o PSB, poderia ser um alento à campanha da ex-senadora.

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Os resultados apontam para a necessidade de Marina Silva graduar a transição para o que chama de "nova política", sob pena de desprezar alianças estratégicas para qualquer candidato. A composição política é imperativa e perfeitamente conciliável com a meta de mudança na forma de exercer a política, que dependerá muito mais da capacidade articuladora da candidata do que do enfrentamento político.

O segundo turno, se lá estiver, determinará a Marina essa rota mais amistosa para alcançar seu objetivo de chegar à Presidência da República. O contexto e os números a favorecem, mas erros pontuais podem dificultar ou mesmo inviabilizar sua vitória.

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