Dilma e Carvalho investem com promessas de mudanças sobre dois públicos hostis aos rumos do governo, tanto no campo econômico quanto no social. Os primeiros, ressentidos com o tratamento do governo brasileiro ao investidor, de distanciamento crítico, assistem com leve sabor de vitória o empenho da presidente em convencê-los de que agora está convencida de sua importância estratégica.
Os últimos indicam que o PT percebeu ter aumentado a distância também de seus eleitores, que veem na ação de Dilma um gesto subalterno ao Capital. Esse público petista acreditou piamente na reação do governo às manifestações de junho e sonhou com uma Constituinte, plebiscito e reforma política, mas de concreto mesmo, veio mais do mesmo: discurso e a perspectiva de uma eleição de risco.
A simultaneidade das ações empresta ao movimento uma característica estratégica que não pode ser disfarçada. Esse aspecto põe em dúvida a sinceridade dos propósitos anunciados, deixando a sugestão de que o governo se move por imposição de uma realidade que desautorizou as convicções ideológicas pelas quais se permitiu orientar.
Não se traduz por mudança de convicção, mas por rumo tático - passível, portanto, de novo redirecionamento após a conquista de seu objetivo: a reeleição.
Essa desconfiança, somada à constatação de que não são promessas resgatáveis em curto prazo, serve à permanência do ceticismo nos dois lados, o que explica a inquietação do PT com a candidatura de Dilma. Ainda que favorecidos por uma oposição que não soube, até aqui, explorar o desgaste que o próprio governo confessa, o partido antevê uma eleição dura.
Mais dura que o imaginado,tempos atrás, razão da campanha à parte que será conduzida por Lula, confundindo-se, mais uma vez, entre criador e criatura. É uma meia-sola no lugar do novo sapato, que seria sua troca por Dilma como candidato, conforme desejo expresso no movimento queremista que perdeu força,mas não desapareceu por inteiro no partido.