A perda de capital político do governador estimulou Lindbergh, cuja pretensão de concorrer vinha sendo contida em nome da aliança nacional entre PMDB e PT. Afinal, a parceria de uma década com o governo federal rendeu dividendos políticos para o Rio e garantiu a vitória eleitoral de Dilma em 2010 no Estado.
Desde a queda de Cabral nas pesquisas, atribuída exclusivamente a erros pessoais do governador, Lindbergh vislumbra o que seria único argumento capaz de justificar o fim do bloqueio dentro do PT a uma candidatura própria: o risco de derrota da aliança ao insistir no modelo esgotado pelas denúncias que exauriram o capital eleitoral de Cabral.
O governador do Rio construíra um patrimônio político que o fez aplaudido em locais públicos por cidadãos extasiados com o êxito do programa de incursão e domínio territorial das favelas e consequente redução do poder do tráfico. As unidades pacificadoras resgataram a autoestima carioca e geraram, pela primeira vez em mais de meio século, uma perspectiva de redução da violência e da criminalidade.
Tudo ia muito bem até que um acidente aéreo deflagrou uma fase de infortúnio político e pessoal do governador, impondo-lhe perdas afetivas e descortinando sua relação com o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, ilustrada por fotos de banquetes em Paris, de efeito simbólico incontrolável. A CPI do Cachoeira, de iniciativa do ex-presidente Lula, seu até então zeloso aliado, cuidou de amplificar o escândalo.
Esse enredo é corretamente avaliado por PT e PMDB como uma produção made in Cabral, dado que não se insere em qualquer contexto determinado por necessidade ou conveniência partidária ou estratégica: as relações da construtora com o mundo político, como se verificou posteriormente, ia muito além das fronteiras cariocas, mas o único dirigente com a imagem irremediavelmente abalada pelas ligações perigosas foi o governador do Rio.
Foram suas relações pessoais com o empresário, caracterizadas por um convívio íntimo, familiar e social, em que a mistura do público e privado saltava aos olhos, que promoveu a desidratação política de Cabral, cujo comportamento descuidado com a chamada liturgia do cargo, lhe foi fatal.
É essa avaliação que leva o PMDB a concluir que não se trata de um desgaste com efeito político hereditário, ou seja, transmissível ao seu vice, Luis Fernando Pezão, cuja imagem de executivo da gestão Cabral, que lhe transfere o crédito pelos acertos do governo, permaneceria intacta.
Ao governador, resta o ônus integral dos erros e impropriedades de sua administração, em que pese a imprecisão do diagnóstico. Seria uma circunstância em que importa a versão, não os fatos.
Em tal cenário, o instinto político recomenda a remoção do problema, no caso Cabral, para estancar a sangria eleitoral e conter o avanço dos atores antes reféns de sua popularidade.
A aposta do partido é de que no cargo dez meses antes da eleição, Pezão terá tempo suficiente para resgatar o índice de aprovação do governo e manter o partido no poder estadual. Pezão concorreria á reeleição, não mais à sucessão de Cabral.
Estimam os estrategistas do PMDB que Pezão chegaria em maio do próximo ano como favorito nas pesquisas, que seriam lideradas, no momento, pelo ministro da Pesca, Marcelo Crivella. Se não evitar a candidatura de Lindbergh, a engenharia peemedebista escora-se ainda no desgaste do senador petista com os processos que responde por desvios administrativos um deles em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), que podem ganhar visibilidade simultânea ao caso do mensalão, que ainda estará em cartaz ainda à época da eleição.